terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Presentão de Natal: Madonna

Durante a longa espera até o ônibus a levá-la para encontrar a amiga e verem o show da estrela, sentiu uma súbita paz. Que se é tão difícil se encaixar ao modelo robô corporativo vaca de presépio de quase todo trabalho, não deve ter nascido para isso. Se não está no caminho de fazer o que ama da melhor forma, Deus a colocará no rumo certo, quando "for para ser". Que se não seguimos nosso chamado, a vida nos põe forçosamente em nossa vocação. Mas só sentia isso em meditação, tomando chá de canseira do transporte público depois de tanto esporro em tão pouco tempo, foi um balsámo, um presente de aniversário retardatário.
Quando encontrou a amiga e se apertaram, andaram pra dedéu até o estádio, pegaram a fila errada, deram a volta para o pé da amiga não machucar mais, se apinharam na arquibancada e fugiram duma patética briga de mulher em que os vizinhos já chamavam a polícia, desconfiou que ou é mais alterna do que pensava ou gosta da Madonna mais do que imaginava.
Na primeira escadaria, não puderam se acomodar, pois "a terceira idade mal humorada" sentada atrás reclamou que não dava para ver com elas na frente. Riram que se for para sentar num show desse, melhor ver na TV e fugiram para os degraus do lado. Ali se divertiram: até quando o vendedor de bebida as chamou de "senhoras", bateu o enorme isopor na cabeça da amiga e ouviram os colegas de platéia brincando: "assim já é demais, derruba ele"!
Atrasou claro, como convém a uma integrante do reino budista dos... deuses. Não, dharma agora não. Quando a cantora apareceu no palco, berrou como nunca. Ao ouvir as músicas mais retrô, esgoelou até dizer chega. Só não dançou mais porque os dias e semanas e meses de sono entrecortados a tentavam derrubar. Com o binóculo e a posição na arquibancada vermelha, desconfiou que ver show nessa região é um rito de passagem para as semi novas. Estreou em ver e não só fazer audição de show musical gigante. Quando sentiu a energia do estádio inteiro cantando e batendo palma junto, pediu "é isso que quero transmitir, seja para criança, adulto ou jovem, para o resto da minha vida, claro que guardadas as devidas proporções de quem ama teatro lado B". Foi um de seus professores de palco que deu a dica de fazerem pedidos quando sentirem essa energia de tudo ao mesmo tempo aqui e agora em apresentação. Na volta, lembrou à amiga da linha noturna para a Praça Ramos. "Onde fica essa praça?" pergunta uma provável Patricinha da fila da frente, que provavelmente nunca passou por isso. As milhares de horas de espera quase desanuviaram o clima pós melhor show da vida. Like a prayer, só precisaram de táxi no meio do caminho, em plena Paulista, coração da cidade. Foi dormir duas horas e meia depois de sair do Morumbi e no dia seguinte a acordaram 3h30 depois, pois o dia de branco seria longo, no interior. Mas dormiu feliz indo e voltando para Bebedouro, cantando baixinho as músicas que a embalaram na "aborrescência".

Ano fertilizado por Dionísio

Na semana seguinte ao aniversário em que estreiou a versão 3.1, o produtor da Seleção Stand Up Comedy do Teatro Folha curtiu o texto em que brincou com o tombaço tomado na "Vila Olímpiada" e a chamou para participar do Open Mic. Confirmou o que diz Veríssimo: os tagarelas são os maiores tímidos, que falam pra despistar. Ficou sem graça, mas não faltou assunto. O apresentador riu mais atrás das cortinas que a platéia. Lembrou da diretora que reclama dos que saem para ser chique, ver peça e jantar, os piores públicos. Shopping Higienópolis. Será? Não fugiu à sua teoria que não há primeira vez boa, tudo tem que apromorar. E provavelmente quanto mais ensaio, menos improviso, melhor a comédia sem figurino, cenário e parceiro de cena. Concordou com o produtor, melhor fazer peça que stand up. Mas quando saiu e encontrou com os amigos que não puderam entrar, ouviu de uma das integrante do público, ilustre desconhecida: "parabéns, continue"! Será que ainda se cobra muito? Está mais que satisfeita com o balanço artístico de 2008: subiu 11 vezes ao palco, uma em espanhol, oito no musical do Recriarte, uma com a tragicomédia Assombrações e essa c"ara de pau super de fazer rir sem auxílio de recurso... nenhum". Mais fácil animar amigos e familiares. Mas ainda escreveu um livro infantil e um monólogo, inéditos. Engatilhou parcerias cênicas para o ano que vem, emprestará o lap top da amiga para escrever os livros que pedem para nascer no recesso de fim de ano, se matriculou em artes cênicas na Faculdade Paulista de Artes. "Subo nesse palco, minha alma cheira a talco como bumbum de bebê/ Minha alma clara só quem é clarividente pode ver"... Gil

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O dia em que fui à Daslu

Ainda bem que apesar da gastrite, o estômago é de avestruz, assim não devolvi para natureza no meio dos perdulários ao lado da favelinha da Vila Olímpia. Me garantiram que não se entra sem carro, fui dar uma de repórter disfarçada. Pedestre entra sim, mas se pergunta se rico tem gosto discutível sempre com aquele chão brilhante a ponto de arder os olhos. E se todo aquele branco nas paredes, no chão é para tentar limpar a consciência deles. Na parte de mochilas tive a cara de pau de parar e perguntar os preços - pq guardei os valores da época em que uma bolsa de lá pagaria um carro e um vestido custaria uma casa, mas havia mochilas modestas a cento e poucos reais. O antro do consumo popularizou? Não, mas pobre eles distinguem a quilômetros de distância ou não incomodam os transeuntes com informações de preço, pagamento, desconto pq ninguém me abordou, ufa! Assim como meu diretor achar que não tem ator ruim, tem ator sem tempo, não tem feio, só tem pobre! Rico é tão bem tratado, sacudido, nutrido, vistoso! Há anos atrás tirei foto da frente quando passei rapidamente, pq era uma graça e continua bonito. Mas não há mais a saudosa livraria. Rico tem menos curiosidade ou falta de grana pra conhecer o que está loooonge? Praça de alimentação, também nem pensar! Um e outro restaurante e confeitaria, espalhados, sem mistura! Foi como quando fui à Loccitane do Higineópolis, para perguntar o preço de um desodarente, quando confessei sem graça ao vendedor:
- Não tem uma mostra grátis para quem está apertado?
Minha mãe só gosta de mim quando por exemplo, saímos juntas e compro vestidos, sapato, tênis, enfim, quando me dou, seja lá o que for. Vai entender! No mercado amoroso e profissional também se usam os amores e profissionais como se fossem tão descartáveis como caneta Bic. Quamdo humanizaremos os relacionamentos? O melhor foi sair sem me sentir menos que a "peruada que circulava lá! Como diz minha prima, devo ser muito autêntica para chegar num lugar em que não conheço, fazer amigos e o que me der na telha - como abrir uma tupperware num centro cultural e devorar o bolo que minha mãe mandou. Eles não olham para o barraco ao lado ao comprar tudo o que não precisam. Que nunca perca a distinção entre o que quero e o que preciso. Amém.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Perder um brinco numa noite de sonho...

...ainda vá lá, mas deixar o outro pela metade, é raro e dá quentinho no coração ao lembrar...

A cidade de minha infância

..já não tem mais o cheiro
que misturava café,terra vermelha e chuva
já não tem mais sabor de Tubaína
e de bolinho de chuva
já não tem mais meu avô
cruzando a cidade de bicicleta,
comparecendo aos bailes da saudade,
puxando bloco de idosos do Carnaval
e caindo da árvore com as crianças da rua
já não tem mais as brincadeiras na rua
a rede na varanda
e as madeiras nas paredes.
O primo chamado no diminutivo
já de olha de cima e muda a voz,
paquera a menina de cabelo colorido
e me faz lembrar na algazarra adolescente do ônibus
que também fiz isso uns anos atrás
a terra da minha infância já não tem mais
as brigas com minha tia
os bate boca sem hora para acabar
e o eterno tomar as dores da mãe
a terra da minha infãncia
não tem mais o cachorro ciumento me mordendo
a visita a cada parente de histórias longas
e a graça da balada brejeira
e os risos da adolescência, prolongamento da infância
o norte do Paraná
ainda tem primo com os olhos cheios d´água
abraços aguardados, favores sem preço,
avô adotada da prima com conselho sábio de ansiã,
um parque sem muros e grades,
um ônibus que sempre atrasa,
a prima que ainda não corta cabelo
e parece que morrerá sonhando com o que não fez
A Cambé de antigamente ficou no céu da minha lembrança.
Francine Machado

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Não há problema...

...a maior lição de todo o trabalho sobre campo energético foi que não tem questões a resolver com o dinheiro. Sempre "torra" mais que os pais aprovariam, não guarda, mas incrivelmente nunca falta. Semre pinta uma restituição de imposto de renda, um décimo terceiro, uma "room mate" para salvar a Pátria. Já fez e refez a "poupança reserva" três vezes e quando a mãe pergunta se usá-la toda com o projeto Mochilão Europeu como fará se precisar lá na frente: "reabastecerei essa grana quantas vezes for preciso para realizar meus sonhos". Bota fé como a amiga de apertamento Kinder Ovo que nunca faltará trabalho, ainda que não tenha sempre emprego. É pau para toda obra, faz massagem, dá aula de inglês, escreve, divulga, ensina yoga se for preciso. Ainda mais agora que o "quase homem da vida dela" fez reascender a fé no seu canto e locução. Até que a professora desse curso bizarro sentenciou: "bem o problema é dos seus pais não concordarem como lida com o que ganha, mas para você mesma nunca foi empecilho ganhar novamente após aproveitar". Ficha caindo! Nunca passou o perrengue que eles temem! Pior, sempre brincou que ao chegar na 3a idade fundará o Retiro dos Jornalistas. Não precisará, pq os atores já tem o seu. E relaxou. Como há muito não fazia. Merece sim, trabalha tanto... E já aprendeu que o problema é quando merece mais do que ganha. Distingue o que precisa e o que quer. Sonha com um período sabático viajando o mundo. Com outro período levando peça onde nunca chegou o teatro. E vai realizar pq ñ teme que a grana e a saúde faltem. Reza e confia. Esse é o segredo?

De como perder o preconceito com dança...

...confessa: já dormiu vendo amiga fazendo ballet. Na infância ou "aborrescência", não lembra bem. Começou a perder o ranço pesquisando esse estilo no You Tube, quem diria? Para a próxima apresentação. Por essas e outras, especialmente a pré-disposição de mandar os pré- conceitos às favas, topou ver a apresentação gratuita que a amiga chamou, no Teatro Sergio Cardoso, dia 25 de novembro. O nome tinha a ver com formigas. Vê, a ignorância coreográfica é tanta que nem memoriza o nome do que vê... Mas marcou a bailarina clássica confessando que sofria quando foi aprender dança popular, até perceber que não precisava tirar o clássico de dentro dela para enfiar o frevo, podia unir os dois, fazer diferente. Se emocionou por associar à própria vida: não precisava abortar o jornalismo pra absorver o teatro, os dois podiam se complementar, se ajudar, a fazer diferenciado, melhor do que com um conhecimento só. Mas voltando à noite em que quase chorou com a música ou a dança, ainda não sabe bem, os bailarinos - a clássica e o popular, de Recife, faziam uma espécie de "dança rasteira". Parecia leve, mas sabia que para soar assim visualmente, o "estrago físico" tinha que ser grande. No vídeo se identificou com a bailarina, não sabia que elas podiam ser "loucas do bem" como as atrizes e jornaloucas: "leio um livro sobre formigas, elas são impressionantes, fico assim querendo fazer uma revolução, não basta uma boa idéia na arte, é preciso muito mais". Amou o texto lido entre um número e outro, dizia tantas coisas entre elas "te vejo ou escrevo seu nome no céu da minha infância". Que pena, a memória sensitiva já está embotada! Seu "reino capenga da crise financeira ter comido a grana da venda do carro" por esse texto, tão tocante! No dia seguinte, a amiga de estudo sobre campo energético ensinou que na Índia a dança e o teatro são inseparáveis, o que ela só entendeu quando viu Kazuo Ono no palco. Ator ou bailarino, que importa? Que o governo estadual de Sampa dê mais apoio a respiros artísticos como esse, que dão sentido à vida.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Só com os alternativos...

...um programa prosaico como levar bebida, "bobajitos" e violão para a Praça do Por do Sol pode virar uma noitada e espantar meu sono terceira idade.
...me sinto a careta da turma e não a mais doida varrida do grupo.
...surpresas boas e baratas como peças não comerciais e circuito musical extra jabá podem salvar uma noite, tarde ou fim de semana sem idéias.
...o salário rende sobremaneira até o fim do mês.
...os cinemas de rua lado B da Paulista são um show à parte.
...apresentações gratuitas em parques não viram programa de índio pela falta de cadeiras.
...dançar noite adentro com pés de valsa em balada mais em conta não estressam por ser a frequência pouco paquerável.
...boteco bom e barato é fonte de risada na certa!
...viagens para albergues da juventude são uma incursão antropológica no primeiro mundo sem sair do País.
...programações gratuitas, achados no Sesc e programas próximos ao metrô são um bálsamo nas contas abaladas por recentes surtos consumo descontrol.
...mantra, vivência, meditação e retiro lavam a alma do stress produzido em horário comercial.
...me sinto mais em casa que nunca!

Minhas quase férias...

Curtidas quando ganhei passagens para a Disney na festa de fim de ano da Eldorado AM e fui pra esbórnia do consumo descobrir com a tia executiva bem sucedida viciada em lipoaspiração que ao contrário do que imaginava, os parques lá são para adultos. Me rendi ao paraíso dos bichos de pelúcia, tirei fotos, fui paquerada por um monitor gringo na fila, rodei o mundo sem sair do lugar na área dedicada aos países, me irritei quando não me acreditaram brasileira, comi bobagem, senti saudade de fruta, corri das montanhas russas, passei na imigração, comprei máquina fotográfica, voltei à infância!
No Carnaval do Espírito Santo com vizinhos e madrinha de crisma, estranhando a tranquilidade da região até descobrir que capixabas migram pra Bahia nessa época, quis descer no Rio com o trânsito da região dos Lagos, fugi das moquecas,ri com a guia turistica, me "emplastei" com filtro solar, tirei sarro do meu pai a excursão inteira com meu quase irmão mais velho, tornando meu patriarca a piada favorita de todo o ônibus...
Conheci Sergipe pela revista Viaje Mais Por Menos com um tempinho para curtir o "Nordeste para descansar", esquadrinhei a capital planejada do estado, passei vontade de esporte radical no Cânion do São Francisco com os vizinhos de hotel e colegas de profissão, me deliciei no mercado Municipal, perdi o preconceito gastronômico, me empanturrei rezando nos quiosques à beira mar, estranhei o marrom das águas e os sergipanos indicarem a praia baiana Barra Grande como a mais bonita do estado.
Quando curti a serra gaúcha com a amiga de profissão e de greve da Casseta Mercantil, me deliciei no café colonial, sonhei com a época do festival de cinema de Gramado, tirei foto sem coragem de encarar a cascata de Canela, me perdi no labirinto de Nova Petrópolis, tirei foto de época e voltei no tempo numa foto sépia, abandonei o churrasco gaúcho e me apaixonei pelo torteli numa tipica chácara italiana, com queijos e presuntos caseiros, em Campestre da Serra e devo ter voltando cantando, como acontecia nos plantões do Canal Rural...
Quando me "aboxonei" pelo 1o e único gringo da minha vida no Rio de Janeiro, bebemorei no bar da garota de Ipanema, fiz yoga na Lagoa, esperei as nuvens do mal tempo deixarem fotografar o Cristo, conheci a cultura do mundo no albergue da juventude, desisiti do passeio na TV comunitária da Rocinha devido ao preço proibitivo do passeio alternativo e me espantei com os representantes do mundo no albergue todo enlouquecidos pelo nosso Pais.
Quando conheci as meditações dinâmicas do Osho no litoral norte, fiquei em estado de graça com aquele mar hipnotizador, me senti em casa com os colegas sanniasyns libertários como eu e subi nas pedras pra deixar a natureza me arrebatar.
Quando gravei o programa Próxima Parada pela Rede Mundial em Monte Verde, coloquei açúcar no vinho seco com a produtora porra louca como eu, descobri o quanto é fácil improvisar em passagens de assuntos triviais como o turismo, matei o frio com massa inesquecível, fiquei apaixonada pelas pousadas e passei vontade com as trilhas, que só seriam conhecidas anos depois em lua de mel.
Quando passei o Reveillon da minha vida com a ex cunhada metade em Fortaleza e metade na Praia da Pipa, fiquei sem fala em frente às falésias, comi peixe ajoelhada, dancei forró no Pirata, ri com os golfinhos na baia potiguar e relativizei a falta de luz com uma turma divertida.
Quando após pedir qualquer coisa menos uma viagem embarquei num mini cruzeiro comemorativo dos 15 anos da Editora Europa, com pit stop em Ilha Bela, me choquei com os preços em dólares nessa praia, tomei banho de Jacuzzi no navio, tive barato sem beber com o mar bravo rumo à Portobelo, enjoei do clima de gala dos bailes, teatro, loja, restaurantes e cassino do navio, me perdi mirando as estrelas deitada na parte de cima do navio, brinquei de Titanic com colegas chapados de profissão e morri de rir com as repórteres comédia da empresa.
Quando assisti ao histórico show dos Stones na praia de Copacabana, com amiga de religião, yoga e profissão, ri a viagem inteira com os físicos comédia da USP, me esqueci no quarto coletivo do albergue da juventude após uma manhã deitando e rolando no esquema fritado à milanesa na praia, encontrei o tio porra louca na platéia mais entupida da história carioca e me senti numa micareta voltando pro albergue entre o púbico de 2 milhões.
Pratiquei yoga e virei musa do fotógrafo num retiro de yoga no interior de São Paulo. fiz vivência de eutonia, meditei, virei de ponta cabeça, fiquei em paz no meio do mato, confirmei minha paixão pela culinária ovolactovegetariana e conheci o mestre Krishnamurti entre os livros da pousada.
Estudei massagem, ganhei livro anarquista do sociólogo do curso de yoga massagem ayhurvédica em São Roque, meditei cedinho, fiz yoga à beira da lagoa, bebemoramos o niver de uma das colegas furando o esquema sem álcool do retiro, abrimos as escápulas à exaustão nas práticas, chorei a cântaros na quase formatura e ouvi gafanhotos na mata à noite até que os insetos quase me carregassem em bandeja para seu banquete.
Devia ser suficiente cerca de 52 dias de férias pra 12 anos de estrada profissional, mas meu corpitcho está dando tilt e se recusando a agilizar nesse fim de ano...

No fim do ano chove muito...e viva o sol!

Há semanas ela se perguntava se estava sonhando quando ensaiava uma música e encontrava voz que ressoava, quando recitava uma poesia e era completa pelo outro, quando ao invés de correr, queria ficar, quando o signo e os traumas não colaboravam, mas as palavras, as atitudes e os ambientes sim. Quando os sonhos batiam. Quando as vontades casavam. Quando a ansiedade milagrosamente entrava em slow motion. Quando dava um passo atrás e observava desconfiada o sobe e desce da paixão. Quando esquecia o rosto do pseudo homem da vida dela. Quando ouvia mantra junto. Quando as vontades eram as mesmas. Quando fazia planos que já tinha acostumado a traçar em carreira solo. Quando baixava a guarda. Quando tirava a dor com a mão. No momento em que ficou no ar, sem chão, sem jeito, sem entender, sem fala, se perguntou com o coração partido: o que podia esperar de uma história começada num evento batizado de Um Lugar que Não Existe? Material para conto de fadas pós moderno. Era uma vez...

Lucinda Você Seria Contra um Verdadeiro Amor?

Imagine uma jovem que contesta a autoridade da madrasta, a igreja, viajou o mundo e traz em si a ânsia libertária da Europa. Transporte para uma época em que as mulheres não tinham voz ou vez. E insira ainda uma paixão fulminante pela professora de francês da família. Esta é a tônica da peça Lucinda, em cartaz pela última semana no Teatro dos Arcos, às quartas e quintas às 21h, Rua Jandaia, 218 tel.: (11) 3101-7802.
O retorno dessa pioneira, praticamente uma anarquista à casa da família após a morte da avô desestrutura toda a tirania da autoritária matrona, que subjuga filhas e a enteada mais nova. Como se não bastasse, questiona os dogmas com o padre manipulador da inocência de outra jovem, faz a confusa e solitária mestra questionar o casamento quase forçado com o advogado da família e ainda corta as asinhas do preconceito familiar com a empregada da casa.
Ela é um sopro de frescor num ambiente hostil, tradicional e negativamente matriarcal, em que não se questionavam as regras e imposições. Descobre que o pai deixara a casa para ela e a irmã, embora a madrasta mandasse e desmandasse a seu bel prazer. Deixa familiares com a pulga atrás da orelha e todas as dúvidas do mundo sambando em suas cabeças recém abertas por seus palpites de que "o casamento anula a mulher". Para ansiosos incorrigíveis, a grande lição, não por acaso vinda da professora é que não adianta apressarmos o tempo, pois ele corre em seu próprio ritmo. Uma grata surpresa das noites culturais alternativas recheadas de adoráveis atores anônimos!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Um Lugar Que Não Existe

Quando as palavras
ressoam como inacreditavelmente
familiares, embora o som seja novidade
Quando se sonha alto
mas o medo recua
e algum sino interno toca
era o que se esperava
quase a vida inteira
Quando a afinidade
espanta o cansaço
Quando o início de uma música
é completa em dueto
Quando a ânsia de escrever
encontra aconchego semelhante
Quando os escritores de um
são recitados pelo outro
Quando idéias sonhadas
não despertam receio
Quando a voz
agita as borboletas no estômago
Quando um solta a voz
e o outro acolhe
Quando o que é meio febre
meio vertigem convulsiva
se acomoda e abre espaço
Quando as aproximações se alternam
Quando tudo é novo
e apesar do histórico prévio de dores e amores
se arrisca mergulhar no abismo
Quando ressoa longe
além do tempo e espaço
Talvez seja hora de acolher
sem pressa, entre assovios, sensorialmente
Deitando na rede
do sensitivo
Francine Machado

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Férias significativas

Primeiro o arrebatamento das estrelas. Em seguida a overdose de ar puro abrindo os pulmões e parte dos sentidos. O reestabelecimento de um sono já combalido por noites de descanso entrecortado. O misto de risada, identificação, esclarecimento e acolhimento de um mestre tão próximo e ao mesmo tempo um ideal difícil de atingir. Esquecer o corpo num pequeno pier e escorregar os pés n´água, namorando o céu e as nuvens. A frequente percepção de voltar para uma casa nova, inacreditavelmente familiar entre os amigos espirituais. O choro bom, os sonhos vindo à tona, a confirmação de que as pessoas fazem sim, sem esperar retorno. O mantra que reverbera na alma. O espetáculo do nascer do sol enrolada na coberta com a varanda aberta. A falta de palavras com o orvalho molhando a roupa e os pés por entre as sandálias. A natureza se sobrepondo a qualquer inquietação urbana passageira. O milagre de dar um passo atrás e perceber a flutuação das sensações provocadas pela mente, a amnésia que sem contato apaga a memória visual, o assentar no presente "sem querer rebobinar ou avançar a fita do cotidiano". A primeira vez em que curte o processo e não se delicia só com o resultado. A vontade de ir pintar templo e por o budismo em ação em Viamão, no Rio Grande do Sul, numa quase comunidade alternativa. Om Ha Hum benza guru padma sidhi hum divertido lama Padma Samten! A bênção consequente de ganhar uma quase irmã que a vida ao mesmo tempo não deu, mas volta e meia presenteia. O melhor lugar do mundo é aqui e agora?

Bruxinha intuitiva dá à luz ao primeiro filho cênico

Amigas já haviam alertado que vaidade não colocava em perigo a capacidade intelectual. Nunca encontrou esse receio dentro dela mesma, mas tinha a fantasia que era o conteúdo e não a aparência que devia despertar interesse, então acabou ouvindo mais de uma vez que se escondia e não sabia se concordava ou subia no palanque que tinha na garganta.
Não que seja óbvia a conexão da feminilidade com a dança circular sagrada, mas sente que numa vivência em que teve dificuldade para acompanhar com o sentido visual, porém ao fechar os olhos entrou no ritmo, saiu achando possível amar a humanidade e esse sentimento sim, acredita que tem a ver com o lado materno, o mais próximo do incondicional.
Mergulhou ainda numa tarde de resgate do sagrado feminino, num espaço meio xamânico, meio wicca, chorou os preconceitos criados pelas decepções com amigas, se identificou com as dores e amores de várias colegas, entrou de cabeça em rituais ancestrais que remetiam à origem, à conexão com a fertilidade da terra, ao ciclo das marés e da lua, à deusa perseguida antigamente com fogueiras da inquisição e hoje com a imposição pela mídia de um modelo de beleza inatingível.
Percebe que há muito pouco tempo tem ouvido o que antigamente considerava bobagem e agora percebe como intuição no trabalho, na relação com amigas e com antigos amores. Não por acaso, também vivencia que não apenas o corpo de quem massageia é um templo, o seu próprio também é, se afasta quando percebe o outro arredio, mas se aninha num carinho muito bem vindo quando se sente assustadiça. Não quer mais se adaptar ao movimento contrário ao que sonha quando se envolve e presenteará com sua própria energia somente quem vibrar numa sintonia parecida, pois não vale a pena se exaurir com quem está noutra freqüência. Welcome back Wicca. Você fez falta sem que ela conseguisse explicar, racionalizar ou entender. Fazendo as pazes com todos os poros retraídos de uma feminilidade quase mal resolvida, põe no mundo sua primeira peça, um monólogo que ficou em gestação por dois anos e meio. Vislumbra e acredita que como já prega o primo de sangue e de palco, ainda ganharão muito dinheiro com isso.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Quem escreve põe para fora para não morrer, como a Clarice

"Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. Sou irritável e firo facilmente.Também sou muito calma e perdôo logo. Não esqueço nunca.Mas há poucas coisas de que eu me lembre."
(Clarice Lispector)

Porque, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. O quanto uso das partes que brigam dentro de mim. Há muito, eu me confundo.

Porque metade não tem medo e levanta os braços, na descida da montanha-russa. Olhos abertos, enquanto outra acha melhor enfrentar a queda com as mãos na barra. Segurando forte. Espremendo os dois olhos, fechados, desde o começo do percurso.
Metade prefere brincar na beira da praia. No raso. Enquanto outra não vê problemas em pular dezenas de ondas e nadar onde a pequena bandeira vermelha, agitada pelo vento, avisa sobre o risco. Sobre o possível afogamento.

Porque, há muito, eu erro a receita do equilíbrio. Uso a parte que não deveria na hora em que não poderia. Me confundo com as metades que brigam dentro de mim.

Porque parte acelera na estrada, no momento da curva fechada. Pé direito até o fim, enquanto outra freia, bruscamente, ao ver a primeira placa. Seta torta, avisando sobre o perigo.

Metade não suporta a burrice, a pequenez, a lerdeza. Outra, sempre calada, tolera a banalidade. Engole a ignorância. Convive com a mediocridade.

Há muito, eu erro a mão. A dose. Me confundo com o que devo usar. Porque metade briga. Explode. Dedo apontado na cara, enquanto outra se recolhe, quieta, debaixo da cama. No quarto fechado. No tudo escuro.

Metade berra. Outra sussurra.
Tenho uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado.
Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade.
Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha.
Metade auto-suficiente.

Mas, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. Me perco.

Há dias em que uso a metade que não poderia. Dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria.

Porque elas brigam dentro de mim, as metades. Há algumas mais fortes. Outras ferozes. Há partes quase indomáveis.

Metades que me fazem sofrer nessa luta diária.
No não deixar que uma mate a outra.
E que sobrevivendo, faz o que eu sou

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sabedoria indiana...

Você é aquilo que são seus desejos mais profundos
Da forma como são seus desejos, são suas intenções
Da forma como são suas intenções, é sua vontade
Da forma como seja sua vontade, será sua ação
Da forma como são suas ações, será o seu destino

Upanishads

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Quem foi que disse?

Quem foi que disse que não tem mais jeito?
Quem foi que disse que só tem um jeito?
Quem foi que disse que ter um objeto
É melhor do que ser um bom sujeito?
Quem foi que disse que se melhorar, estraga?
Quem foi que disse que se mudar piora?
Quem foi que disse que mulher não pode
E que você não pode mudar isso agora?
(Quem foi que disse?)
Quem foi que disse que isso é maluquice?
Quem foi que disse, quem foi que disse?S
ou, Sou, Sou (Quem foi que disse?)
Sou, Sou, Sou (Quem foi que disse?)
Quem foi que disse que gravata é seriedade?
Que alegria não é necessidade?
Quem disse que ideal é coisa de juventude
E que você não pode mudar essa atitude?
(Quem foi que disse?)
Quem foi que disse que isso é maluquice?
Quem foi que disse, quem foi que disse?

Tudo indica...

Que é da madre Teresa...

'Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso.'

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Sobre o memorável

Quando nossas palavras se encontraram
Eu só tinha de ti um olhar
Todo teu resto era mistério
Foi no descobrir de paixões em comum
E nas mensagens surpresa
Que ensaiei um frio na barriga
Foi no desencontro seguinte
Que pensei ter sonhado com sua ligação
Não atendida, apitando no celular no dia seguinte
Frases que tocam e risadas depois
E a promessa de se ver mesmo que fosse no Jaçanã à meia noite
Quando a conversa ficou mais leve
Quando as velas se acenderam
Quando as peles se conheceram
Entre todo o despertar sensorial
e dúvidas entre o real e imaginário
Quando deixamos as máscaras de lado
Apesar dos corações continuarem nos amados palcos
Quando nos tateamos
Quando não nos vimos na penumbra quase proposital
Ah, esse estado intermediário
Para o qual ainda não se tem nome
Esse jogo inebriante e incerto
Que vai e vem
Simula as ondas do mar
Entre receio e desejo
Que os pés percam o chão e a segurança
O que faz com que corramos o risco?

Da Madre Teresa

'Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso.'

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Oração Celta

Que jamais, em tempo algum, o teu coração acalante ódio.
Que o canto da maturidade jamais asfixie a tua criança interior.
Que o teu sorriso seja sempre verdadeiro.
Que as perdas do teu caminho sejam sempre encaradas como lições de vida.
Que a musica seja tua companheira de momentos secretos contigo mesmo.
Que os teus momentos de amor contenham a magia de tua alma eterna em cada beijo.
Que os teus olhos sejam dois sóis olhando a luz da vida em cada amanhecer.
Que cada dia seja um novo recomeço, onde tua alma dance na luz.
Que em cada passo teu fiquem marcas luminosas de tua passagem em cada coração.
Que em cada amigo o teu coração faça festa, que celebre o canto da amizade profunda que liga as almas afins.
Que em teus momentos de solidão e cansaço, esteja sempre presente em teu coração a lembrança de que tudo passa e se transforma, quando a alma é grande e generosa.
Que o teu coração voe contente nas asas da espiritualidade consciente, para que tu percebas a ternura invisível, tocando o centro do teu ser eterno.
Que um suave acalanto te acompanhe, na terra ou no espaço, e por onde quer que o imanente invisível leve o teu viver.
Que o teu coração sinta a presença secreta do inefável!
Que os teus pensamentos e os teus amores, o teu viver e atua passagem pela vida, sejam sempre abençoados por aquele amor que ama sem nome.
Aquele amor que não se explica, só se sente.
Que esse amor seja o teu acalanto secreto, viajando eternamente no centro do teu ser.
Que este amor transforme os teus dramas em luz, a tua tristeza em celebração, e os teus passos cansados em alegres passos de dança renovadora.
Que jamais, em tempo algum, tu esqueças da Presença que está em ti e em todos os seres.
Que o teu viver seja pleno de Paz e Luz!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Aprendizado e descoberta

Se surpreendia com a experimentação do quanto o coração funciona independente da razão. Tecnicamente não havia do que reclamar, recebia até mais do que esperava, a ponto de confirmar o que dizia Osho, o que se imagina é melhor do que quando acontece. Lembra-se sem graça de já ter sido arrebatada por uma mostra de fragilidade combinada a uma tentativa de autoritarismo, ainda que racionalmente abominasse os que reprimiam os libertários como ela. De repente entendia que todas as histórias intensas, mas fugazes independiam da vontade dos envolvidos para ir ou não adiante e mesmo assim era válido tentar, não havia má fé, ilusão ou perda de tempo. Ficava claro que quanto mais a ansiedade tenta se aproximar do estado arredio, mais o distanciamento se amplia, assim como o ciumento “põe lenha na fogueira” do companheiro sossegado e o ambicioso não se percebe descaradamente capaz de qualquer coisa para subir, porém os colegas de trabalho sentem...Compreendeu que em meio à incompreensão e questionamento, pode ser “atropelada” por novas possibilidades; que as novas oportunidades não surgem quando estamos prontos, mas quando tem que acontecer, a colega comprometida que ainda estava aberta às boas e inesperadas surpresas da vida e amigos coloridos nos quais não se encontrava um “senão”, mas que mesmo assim não despertavam a química que nos impulsiona adiante. Estranhou a assustadiça que vinha à tona, mesmo quando recebia exatamente o que declarava querer. E justo ela que facilmente sente o revoar das borboletas no estômago! Se sentia espantada e em novo aprendizado vivendo o oposto do que estava acostumada. Mas não testava suas capacidades cênicas, estava sinceramente abrindo disponibilidade para uma possível felicidade, pois aparentemente tudo colaborava, exceto sua chama interna, estranhamente impassível... Poderia o que sempre buscou ser menos vertiginoso do que idealizava? O que arde interiormente pode atracar num cais que não ferve?

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Do mestre poeta místico Rumi

Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.
Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.
Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.
Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.
Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te.
Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?
Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo - um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!
Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.
Não durmas,
senta com teus pares
A escuridão oculta a água da vida.
Não te apresses, vasculha o escuro.
Os viajantes noturnos estão plenos de luz;
não te afastes pois da companhia de teus pares.
Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
e reflete, como a mina de rubis,
os raios de sol para fora de ti.
A viagem conduzirá a teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.
Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.
Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.
Oh, dia, levanta! Os átomos dançam,
As almas, loucas de êxtase dançam.
A abóbada celeste, por causa deste Ser, dança,
Ao ouvido te direi aonde a leva sua dança.
Quero fugir a cem léguas da razão,
Quero da presença do bem e do mal me liberar.
Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu ser.
Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis!
Eu soube enfim que o amor está ligado a mim.
E eu agarro esta cabeleira de mil tranças.
Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça,
Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim.
Ele chegou... Chegou aquele que nunca partiu;
Esta água nunca faltou a este riacho
Ele é a substância do almíscar e nós o seu perfume,
Alguma vez se viu o almíscar separado de seu cheiro?
Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se bebo água, quando estou sedento
Vejo na água o reflexo do teu rosto.
Sou medido, ao medir teu amor.
Sou levado, ao levar teu amor.
Não posso comer de dia nem dormir de noite.
Para ser teu amigo
Tornei-me meu próprio inimigo.

Poesia Mística

Em meio a árvores,
Rios, lagoas, flores,
Cheiro de grama
É quando Me arrebata
Tua presença
É quando quero chorar
Tocada por uma música
Pelo olhar de um personagem verdadeiro
Por uma dança de quem põe a alma nela
Quando a arte deixa o tempo em suspensão
Encontro o divino
Meio adormecido em nós
Na promessa atendida
De uma criança
Te sinto em mim
Invadindo cada segundo
Deixando sem ar
Fazemos as pazes, brigamos
Que é de amor e ódio
Nossos reencontros
Quando um olhar amoroso
Vence todo o risco,
Contra todas as estatísticas
Na dor tirada pela mão
Nos pequenos sonhos realizados
Apesar da dúvida
No despertar de amor de mãe
Pela filha que não era minha
Pés na terra molhada
Com todos os sentidos
Inebriados pelo presente
Olhos cheios d´água
Ânsia de conhecer
Cada mergulho na profunda
E inexplicável conexão entre nós
Quando me reconheço
E te percebo
Em cada transformação inexplicável
Nisso que me deixa fervendo
E rendida

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O que esse mal estar faz aqui?

Nem mesmo os quatro anos de rompimento e reconciliação com a meditação foram suficientes para evitar que pela segunda vez sentisse um mal estar incômodo ao saber de antigos amigos coloridos e namorados se engraçando com amigas. Nem mesmo sabia se colocava ou não elas entre aspas, pois não podia reclamar que havia sido apunhalada pelas costas, ambas foram honestas. A sinceridade é mesmo libertadora, mas nunca estamos preparadas para ela, apesar da capacidade de jurar de pé junto que a mentira é pior. Finalmente entendeu o que sua professora queria dizer com a definição “bem aventurada ignorância”. Não podia ser ciúme, não voltaria com nenhum deles, estava mais que aprendido a duras penas que eram incompatíveis. Estava definitivamente noutra. Percebeu que não era nada evoluída como as amigas a consideraram quando soube da primeira amiga a se engraçar com um antigo rolo e sentir alívio quando ela abriu o jogo, sem raiva, nem choro, nem vela. Não era capaz de ter ciúme nem no relacionamento assumido a dois, como podia viver isso com relação aos falecidos, páginas mais que viradas? Lembrou do mestre budista explicando que o ciúme é a inveja da felicidade do outro com algo que não seja sua companhia. Não havia racionalização, entendimento, explicação ou classificação possível para aquele estranhamento, aquele meio termo entre desencanar e assumir que incomoda a felicidade alheia, uma espécie de limbo entre o desapego e o orgulho ferido. Como pode ficar até feliz quando a primeira amiga veio contar que não resistiu ao poeta, que curou sua abstinência literária e ensinou que o termômetro para medir a saúde dela era a distância que estava ou não de por no papel, e agora não conseguir se livrar daquele soco no estômago não recebido? Não sentia mais aquela fissura por nenhum deles, o que não abalou sua frágil estabilidade emocional e os outros dois, que aproximando de amigas a faziam perder as estribeiras. Mas uma delas pedia um alvará, uma benção, um passe livre, um amém para o tolerável inaceitável. A “barraqueira” adormecida nela queria subir nas tamancas, rodar a baiana, reativar o palanque que tinha na garganta. Um resquício de bom senso veio à tona. Desejou que fossem felizes a léguas de distância, o máximo de civilidade que conseguiu. E estranhou não conseguir arder na mesma proporção com a nova possibilidade que gentilmente pousou em sua vida há pouco tempo. Estava mesmo fora do prumo, pois concordou quando a prima lhe sugeriu adotar a lápide de outro intenso como ela: “digam ao mundo que fervia”. O morno neutro calmo tranqüilo estranhamente instalado em sua vidinha recém renovada como desejava podia ser um comprovante da doença pós moderna atestada pelo médico, ainda relutante dentro dela? Como todos os aspirantes a artistas mal resolvidos, sentia que escrevia para não morrer, não sufocar. E se renovava. Sempre

A paixão abortada e incomodamente não cicatrizada

Nunca pensou que pudesse voltar de uma viagem de negócios com a sensação de “momento perdido que não volta mais”. Não foi um trabalho fora da cidade típico. A chefe milagrosa e inexplicavelmente deixou a passagem de retorno em aberto e deu a idéia de passar um fim de semana nesse município litorâneo que não conhecia, pois o que precisava fazer aconteceria numa sexta. Também não tinha verba adicional para viagens surpresa muito bem vindas e por outro desses motivos que a razão não alcança, a mãe emprestou grana a fundo perdido, mesmo tendo em seu imaginário a região como perigosa. Como não havia conseguido fazer mochilão europeu dos seus sonhos e já tinha escrito sobre albergues da juventude sem conhecê-los, achou que já não era sem tempo um test drive que a colocasse em contato com culturas do mundo todo sem sair do Pais, já que os gringos são mais habituados a esse tipo de viagem.
Não viajou com segundas intenções. Era ainda a época em que a lua de mel se prorrogava em casa. Mas tinha tamanha paixão e saudade do mar, que não se privou de dois dias caminhando na areia, mesmo sem a companhia dele. Traria lembrancinhas do tipo “Fui para o cafundó e lembrei de você”. E a vida e o relacionamento continuariam com seu curso normal, sem sobressaltos. Ao menos era o que imaginava ao embarcar. E é quando menos se espera que Deus comprova seu incrível senso de humor negro.
O trabalho correu bem, todos com os quais teve que lidar foram tranqüilos, ligou para a empresa quando terminou, relatou o serviço e desejaram “boa praia”, quase como prêmio pela missão cumprida.
No albergue, ao deixar as suas malas e pertences no armário, conheceu a companheira de quarto, que tinha forte sotaque do sul. Trocaram informações básicas sobre profissões, estado civil, tempo de estadia, preferências para se divertir. A colega tinha sono, descansaria um pouco mais. Ela estava em polvorosa e desceu para a área de convivência.
Judeus, americanos, ingleses, conheceu um pouco de tudo. Se espantou com o quanto eles vêm passar um período curto, se apaixonam pelo País e começam a pesquisar algum negócio para ficarem de vez. Brinca que como não conhece compatriota que goste do Brasil, vê as qualidades e defeitos “de sua terra” de outra forma ao trocar impressões com colegas de tantas nacionalidades.
Conheceu uma alemã típica, loirinha, olhos azuis, até mais simpática do que imaginou para alguém de um País que imaginava como mais frio. O colega dela se aproximou e... Ela foi incapaz de entender seu nome, não sabia se por ser difícil ou por ele a deixar com os sentidos completamente desnorteados.
Jamais imaginaria um alemão moreno, de olhos e cabelos escuros. Soube que era descendente de turcos e que esse país tinha relações comerciais e históricas muito próximas com a Alemanha. Era médico. Admirava tanto as profissões de saúde! Ouviu encantada ele explicar que faria uma residência num dos maiores hospitais brasileiros, que não tinha leitos suficientes para todos os pacientes que recebia e entendeu quando explicou que depois dessa experiência, tiraria de letra os centro de saúde alemães, que sempre dão conta de seus doentes.
Se sentia de volta à “aborrescência” ao ter a impressão de que borboletas revoavam em seu estômago. Passearam com outros colegas pela praia e as afinidades começaram a deixá-la mais sem chão. Nunca acreditou quando a amiga contou que quando conheceu “o homem de sua vida”, ele já tinha outra “mulher da vida dele”. Sempre brincou que no máximo havia “o homem de nossas vidas da semana passada”, mas quando mencionou a paixão por poesias e iniciou um poema, que ele completou e era de Rainer Maria Rilke, desejou que os demais colegas de hospedagem desintegrassem naquele instante. Não sabia se ficava mais sem jeito por não conseguir camuflar um sentimento que tinha esquecido em algum limbo da acomodação amorosa ou pelos demais colegas saberem que era casada. Desejou que seu estado civil não viesse à tona, quase fez promessa para isso. Os dois também amavam teatro, meditação, viagens, massagem, técnicas de auto conhecimento e aprimoramento pessoal... A voz dele ia e vinha, como se seu ouvido se recusasse a trabalhar conforme ele a arrebatava. Quando o assunto acabava, não ficavam sem graça, os olhares, toques sutis, mas pulsando toda a energia do mundo e as intenções inconfessas preenchiam todo o silêncio, nada constrangedor. A noite parecia ter se multiplicado em horas que não tinham mais fim e desejou que a manhã nunca chegasse, que o retorno não viesse, que ele a chamasse para largar tudo e correr o mundo, sem parada certa, sem segurança alguma, sem a rotina que tanto a oprimia. Esqueceu que tinham platéia, mas foi incapaz de demonstrar o quanto aquilo era raro, especial, relevante, único... Era muito mais desconcertante que suas paixões juvenis, era muito mais intenso que o amor companheiro morno do cotidiano, que o dia a dia insistia em massacrar. Parecia que voltava para uma casa nova, inacreditavelmente familiar. Era lugar comum dizer que nunca tinha sentido aquilo, mas não conseguiria definir, descrever, nomear, classificar, racionalizar, entender... E ao mesmo tempo, era como se tivesse esperado a vida inteira por aquilo, como se só tivesse nascido para passar por aquele momento. Tudo indicava ser um encontro de almas mesmo, desses que ela, cuja praticidade quase masculina causava espanto às amigas, nunca acreditou. Um começava uma frase, o outro completava. Não podiam se encostar, pois era como se desse choque, se as luzes se apagassem e ousassem se beijar, brilhariam no escuro. Cochichos. Risos furtivos. Rubor fora de hora. Dançaram à beira do mar. Tomaram água de coco como se não fosse madrugada. Relembraram a infância e riram sem motivo, como se de fato tivessem voltado à ela. Sentiram saudade de amigos, familiares. Escreveram na areia. Contaram as estrelas. Ficaram sem voz quando prestaram atenção ao quanto a lua estava linda. Trechos de peças eram contados, rememorados, vividos novamente, compartilhados. Ela aprendeu um pouco de uma nova área com ele, que também se embrenhava no campo nada familiar no qual ela atuava. Confessaram segredos. Ousaram dizer os medos em voz alta. Choraram traumas. Ouviram o mar. Às vezes os colegas pareciam tantos ao redor, uma platéia insuportável, testemunhas constrangedoras e em outras ocasiões era como se embotassem, sumissem e o cenário, o figurino, os companheiros de cena se distanciassem, tudo se apagasse e só olhar brilhante dele preenchesse todo aquele instante, o espaço, os sons. Foram cúmplices. Criaram um verso, uma cena, uma música, uma estratégia de fuga, uma viagem futura, sentiram como se suas energias não quisessem mais se separam e perderam a voz. O público invadiu a cena. A colega de quarto contou que era casada. Soube que ele era mulçumano e eles têm uma parcimônia com as mulheres comprometidas que as demais religiões e culturas não conseguem entender. O tempo, as dificuldades, o cansaço, os empecilhos, o ruído, as influências externas voltaram. Os olhos encheram d´água. O fim de semana voou. Ela passou dois dias sentada à beira mar sem ar, sem entender, sem raciocinar, sem se reencontrar, sem se mover, sem jeito, sem graça, sem chão. Voltou para casa constrangida como se o aeroporto, o taxista, a rua, a vizinhança, a família e o próprio marido percebessem sem que falasse nada o encontro que abalara suas estruturas. Não ousou dividir o que parecia um misto de sonho e pesadelo. Era como se houvesse uma traição consumada, ainda que no máximo tenham vindo à tona somente intenções. Sempre dizia que não trairia pois continuar comprometida seria manter uma mentira. Descobriu que fingir que não tinha tido uma vontade quase irrefreável também era a manutenção de um engodo mútuo. Que os pensamentos, palavras, toques inocentes atestaram que seu amor inabalável começava a se decompor. Era como ter um morto aos pés e fazer de conta que tudo continuava na mesma. Apesar do quanto estava perturbada, fazer o amor tão familiar foi gostoso como nunca. Achou que passar vontade podia requentar o relacionamento meio insosso. Nunca digeriu bem aquele mal estar, aquela sensação de momento perdido que não volta nunca mais. Procurou o turco pelo Orkut, no hospital onde faria sua residência, na lista telefônica, sussurrou aquele nome ininteligível baixinho, quase como uma prece, um desejo, um pedido, uma esperança. Entendeu quando lembro do antigo professor de literatura, que decretava: o que não tinha acontecido, o platônico, era mais forte que o consumado. Levou ainda anos para compreender que aquele tinha sido o início do fim. O estopim de vontades inconfessas, de problemas que iam para baixo do tapete, de não se acostumar ao todo dia igual. O casamento acabou, não por causa desse abalo quase insignificante na prática, mas arrasador emocionalmente. Viveu novos namoros, amigos coloridos, mas anos depois ainda tentava não se incomodar com aquela sensação de que ninguém valia um momento perdido que não volta mais. E deixava falando sozinha aquela vontade sem lógica de encontra-lo inesperada e surpreendentemente, na metrópole que tragava quase tudo e todos. Um pouco por isso, um pouco pelo tanto que tentou sufocar a libertária que vinha à tona, adotou como filosofia de vida que as vontades que quase nos matavam, tinham que ser mortas antes.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Pequenos Milagres

Tem uma relação de amor e ódio com o divino, de questionar, brigar e depois fazer as pazes. Coisas que só Deus mesmo para entender e acolher.
Apesar de parafrasear Ivaldo Bertazzo em entrevista à Folha de S. Paulo e adaptar uma frase dele: "Deus não pode resolver meus problemas 'pequeno burgueses', por estar no Iraque em pedidos mais urgentes". Mesmo com seu irresistível humor negro, Ele fez caírem de pára quedas em sua vidinha - direto da Guerra? - um trabalho melhor e um homem que não "sabonetou". Ah tá, és onipresente e onisciente mesmo, desculpa aí...
No auge da primeira dor de amor, chorando há três meses atrás do computador, volante e prato de comida do restaurante, se rendendo a um mês e meio de fluoexitina por acordar e ter que ser "guinchada" da cama, pediu: "Pai tira com a mão, sozinha eu não dou conta". Ao reencontrar com o gatilho da primeira depressão da sua vida, miraculosamente não encontrou nele o homem que se apaixonou. O viu sem projeções. E não só visualmente estava diferente. Era outro mesmo, inapaixonável. Bem numa semana em que duvidou da existência Dele, de tanta revolta contra os policiais e políticos brasileiros e a aperente inércia Dele. A fé renasceu, novamente.
Na infância, quando almoçava e jantava omelete e o primo paixonite aguda, não fosse parente, seria o homem de sua vida teve um tipo de epilepsia, em que faltavam segundos de oxigênio no cérebro e ele tinha convulsões, fez o jejum que a família tanto praticava na Quaresma, do ovo que era aquele prato ao qual recorria sem pestanejar sempre. Ele não voltou a ter as crises. Ela sofreu no princípio, mas quando terminou não conseguiu mais comer ovo, a não ser bem disfarçado em bolo, e sua dieta foi forçosamente ampliada.
Após nascer chorou ininterruptamente durante quatro meses. De acordo com o pediatra, eram cólicas, fome e sabe-se lá o que mais. Numa tarde em que a mãe já havia tentado de tudo, cismou que tinha uma nata no olho da bebê e convocou o marido para irem ao oftamologista. O especiallista bateu o olho e decretou: "glaucoma congênito, tem que operar imediatamente". Na época só dois oculistas faziam a cirurgia e ele era um deles. Mas nata na pupila não é um sintoma dessa doença. Um anjo talvez, nublou a visão dela. Anos depois ainda espanta os profissionais da área, que não conhecem ninguém com esse problema enxergando tão bem...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Levantei poeta

Acordei e vi poesia
nos pássros que dão bom dia
em frente ao meu quarto
Acordei e vi poesia
no sol que dava outro colorido
entre as frestas da minha janela
e dos prédios
Acordei e vi poesia
na lembrança do seu beijo
no arrepio do seu carinho
Acordei e vi poesia
na capacidade do ser humano
Se reapaixonar
e provocar o renascimento
dos sonhos quase moribundos
Momento mágico
como o operário de Vinícius de Moraes
que repentinamente se encanta
de se reconhecer em cada objeto,
uma parte do seu trabalho.

Francine Machado

Mar Morto

Já achei que esse amor
era como as ondas
até que percebi
que elas iam e vinham sempre
Você não
Era sempre uma ausência
uma dúvida
um coração sobressaltado
Seu retorno
tens razão quando diz
que se me fazes sofrer
Está tudo de ponta cabeça
Mergulhei e vim à tona na marola
aqui tua paixão não me faz mais
perder o chão
Como se apaixona mesmo assim?
Só se pergunta quando já estava
virada do avesso...

Francine Machado

Quando o Inverno Chega

Para onde vão as flores
quando o inverno chega?
àra onde vai a esperança
quando a intenção surpreende,
mas fica no ar?
Para onde vai a expectativa
quando as palavras
contradizem as atitudes?
Para onde vai a confiança
quando se ouve e se lê
o que o outro não sente?
Para onde vai o amor
quando só sobra a amizade?
Para onde vai a raiva
quando a sinceridade é doída, mas libertadora?
Para onde vai o barco
quando o medo paralisa as negociações?
Para onde vai a saúde
quando a fé se esvai,
feito ampulheta, arreia que escorre
e o dedo não consegue brecar?
Para onde vai a vontade de ficar junto
quando o gostar pesa?
Para onde vai a sensibilidade
quando o verde não consegue
violentar o asfalto?
Para onde vai a poesia
quando se perde o fio da meada?

Francine Machado - pq escrever é de família...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O poeta, de Vinicius de Moraes

A vida do poeta tem um ritmo diferente
É um contínuo de dor angustiante.
O poeta é o destinado do sofrimento
Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza
E a sua alma é uma parcela do infinito distante
O infinito que ninguém sonda e ninguém compreende.
Ele é o etemo errante dos caminhos
Que vai, pisando a terra e olhando o céu
Preso pelos extremos intangíveis
Clareando como um raio de sol a paisagem da vida.
O poeta tem o coração claro das aves
E a sensibilidade das crianças.
O poeta chora.
Chora de manso, com lágrimas doces, com lágrimas tristes
Olhando o espaço imenso da sua alma.
O poeta sorri.
Sorri à vida e à beleza e à amizade
Sorri com a sua mocidade a todas as mulheres que passam.
O poeta é bom.
Ele ama as mulheres castas e as mulheres impuras
Sua alma as compreende na luz e na lama
Ele é cheio de amor para as coisas da vida
E é cheio de respeito para as coisas da morte.
O poeta não teme a morte.
Seu espírito penetra a sua visão silenciosa
E a sua alma de artista possui-a cheia de um novo mistério.
A sua poesia é a razão da sua existência
Ela o faz puro e grande e nobre
E o consola da dor e o consola da angústia.
A vida do poeta tem um ritmo diferente
Ela o conduz errante pelos caminhos, pisando a terra e olhando o céu
Preso, eternamente preso pelos extremos intangíveis

Eu também Vinícius escrevo pq se não coloco para fora, parece que vou morrer...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Ode às mais corajosas

Acaba de cometer uma violência inevitável contra si mesma: depilação. É realmente inacreditável que a pessoa repita aquele processo de não saber o que dói mais: a cera quente queimando até o útero ou a depiladora puxando e levando as trompas embora. Entre uma limpezinha e outra é de se desconfiar: "fiquei estéril"? Como isso não impede de ter filhos no futuro?
É sempre uma incógnita se a coragem para o repeteco mensal voltará. Caminhar para a salinha com maca, esquentador de meleca e ventilador é como imaginar o que a boiada sente rumo ao abate. Depois é como TPM, plantão e aborrescência: sempre passa e ao fim, a dita cuja se coroa como a mais corajosa das pessoas. Anda pelas ruas crente que pode encarar qualquer bucha.
A depiladora ainda tem a cara de pau de perguntar se quer limpar outras partes do corpitcho. Impossível, ainda está se recuperando do trauma. Lembra das colegas que depilaram uma axila ou verilha e não tiveram coragem para o outro lado. Uma até desmaiou. Tem vontade de encabeçar uma campanha pela manutenção da natureza como ela é, que se tem pelo aí, alguma função deve ter, proteção, sabe-se lá. Mas desconfia que não ganhará adeptos, como quando defende a manutenção da cutícula.
E para coroar todo o traumático processo, a pessoa volta para casa convencida de ter adquirido a coragem dos recrutas de Resgate do Soldado Ryan, põe a lingerie mais bonita do armário e aguarda, claro o bofe reparar, comemorar, soltar fogos de artíficios, dar ipi, ipi urra! para a coitadinha ainda em convalescência do limpa aqui e ali, mas qual o que, o bonito passa batido e vai para os finalmentes... Só elas reparam nos detalhes?

Despedida de separada

Todas as que tomaram gosto pela aborrescência tardia pós separação deviam ter direito a uma despedida de separada. Para procurar os amigos coloridos que sabonetaram, irônica como advogado xingando o outro nas entrelinhas daquela linguagem rococó deles:
- Tem, mas acabou!
Esperar calma e pacientemente os que tucanaram em cima do muro e informar feito funcionária pública bicho preguiça:
- Passa mais tarde pq hoje só amanhã!
Levantar todas as baladas não conferidas com as amigas divertidas livres, leves e soltas e passar o que, uns 15 dias na esbórnia bem intencionada?
Tomar uma overdose familiar antes que os parentes que são como pum, cada um só aguenta os seus mesmo e curtir a parte boa dos programas com primos e tios antes que um deles dispare no fófis a síndrome run Forest, run!
Estudar e reler tudo que ainda não conseguiu por em dia. Ensaiar falando sozinha como quem acabou de ganhar alta no hospício Charcô. Malhar todos os extras que não deu tempo.
Todo mundo também deveria ter direito a umas feriazinhas entre uma compulsão de troca de trabalho e outra: mochilão na Europa, Nordeste ou nas cidades zen dos lesados: Trindade, Visconde de Mauá e São Tomé das Letras.
Todo mundo devia ter um feeling pro novo bofe não pegar a pretê em dia Bridget Jones: de calcinha quase vó, mata atlântica intocada e naqueles dias em que sua parte reprodutiva está, digamos assim, "de um clima comunista como o vermelho das Ferrari".
A vida não devia pegar a gente sempre de calças curtas.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Assim nasce uma lenda urbana...

...encarando a enésima reunião com o cliente na Starbucks - chiquérrimo, não fosse o fato de estar eterna e constrangedoramente sem verba para quase o cardápio todo, reparou e partiu para o interrogatório estilo comédia da vida privada:
- O que é frapê java chip?
- Chip é um pedaço de chocolate ou cookie senhora.
- E java?
- Não saberia dizer senhora.
- É um frapê de programador especializado em java! Estão centrifugando nerds na rede de cafeterias! Como aquela época em que a Coca Cola tinha a fama de ter processado um funcionário em sua linha de produção de bebidas! Olha que vou espalhar isso na rede, pois a especialidade do assessor de imprensa é o spam!
Não, ninguém na fila riu tanto quanto ela da piadinha infame. Momento total surto cômico descontrol...

Momento poético contemplativo...

...em plena caminhada matutina no parque, quando passa por baixo de uma árvore quase despida de suas florezinhas amarelas:
- Pra onde vão elas quando o inverno chega?

Concorda com a personagem mais divertida...

...da peça Confissões das Mulheres de 30, no Teatro Folha, do Shopping Higienópolis "tem homem que é como junkie food: sabemos que não devemos encarar, mas de vez em quando não resistimos". E literalmente tem piriri, menos de 24 horas depois, comprovando a sabedoria corporal que as xamânicas garantem que temos. Demorou pra fechar e fazer balanço, suspira entre uma perda de energia e outra...

Momento TPM surto descontrol...

...fecha o dedo na porta de casa e lembra de um texto supostamente do Miguel Falabela que começa dizendo como isso dói. Banca a criança mimada, bate a porta, quebra a máscara ganha da provável amiga mais cênica que tem e chooooooora pelo estrago, pela diarista que não veio, pelo amigo colorido incomunicável, os entrevistadores que te adoram, mas contratam escraviários e recém formados mais em conta no tal fenômeno de juniorização corporativa.

Reencontrando a amiga acadêmica pero no mucho pouco tempo depois, essa desconfia que o que aconteceu foi para aprender a "não ter raiva". Ué, o psico fenomenologista e mais pé no chão, impossível, garantia que o zen budismo vivia a raiva em sua plenitude quando ela vinha. E olhe que ele quase foi monge!

Dias depois o roxo no dedinho comprova que não tinha sido apenas descompensação hormonal.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Momento meio Sexy and The City meio wicca

Vai ao dentista numa cidadezinha minúscula com mania de grandeza que chama de "síndrome primeiromundista", mesmo não tendo cinema e ainda sofrendo de enchente. Na saída do consultório, sentencia:
- Vou encontrar o ex.
E ele passa de bicicleta do outro lado da rua, magérrimo, ao que ela pensa em voz alta:
- Preciso de uma bicicleta urgente!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

De pq o Musical Gota D´Água é imperdível

E pq Chico Buarque não tem pra ninguém no entendimento da alma feminina...

Joana - Então tenha a coragem de dizer por que você me deixou?...
Jasão - Você quer saber?...

Joana - Quero, vá...
Jasão - Você é viagem sem volta, Joana. Agora eu vou contar pra você, sem rancor, sem sacanagem, porque é que eu tinha que te abandonar. Você tem uma ânsia, um apetite que me esgota. Ninguém pode viver tendo que se empenhar até o limite de suas forças, sempre, pra fazer qualquer coisa. É no amor, é no trabalho, é na conversa, você me exigia inteiro, intenso, pra tudo, caralho... Tinha que olhar pro céu pra dar bom dia, tinha que incendiar a cada abraço, tinha que calcular cada pequeno detalhe, cada gesto, cada passo, que um cafezinho pode ser veneno e um copo d'água, copo de aguarrás. Só que, Joana, a vida também é jogo, é samba, é piada, é risada, é paz. Pra você não, Joana, você é fogo. Está sempre atiçando essa fogueira, está sempre debruçada pro fundo do poço, na quina da ribanceira, sempre na véspera do fim do mundo. Pra você não há pausa, nada é lento, pra você tudo é hoje, agora, já, tudo é tudo, não há esquecimento, não há descanso, nem morte não há. Pra você não existe dia santo e cada segundo parece eterno. Foi por isso mesmo que eu te amei tanto, porque, Joana, você é um inferno. Mas agora eu quero refresco, calma, o que contigo nunca consegui, nunca, nem um minuto. Já, com Alma é diferente, relaxei, perdi a ansiedade, ela fica ao lado, quieta e a vida passa sem moer a gente...

Quando a chuva aperta

Não parece pedir demais
ter alguém a quem abraçar
quando a chuva aperta
Ou perguntar quando o resultado
do exame não é familiar:
- Será que é grave?
Pedir cafuné quando entro com o traseiro
e o trabalho com o pé:
- Pode ser que repita antigos erros,
que ainda tenha o que aprender,
mas lá não era pra você mesmo!
A quem confessar quando morre
o pai da amiga de infância:
- Se fosse o meu, pirava!
Dividir encantos numa peça,
filme, viagem, show, retiro:
- Não é lindo?
Alguém pra rir da comida queimada...
- É, não levo jeito mesmo!
Pra acender a luminária, o incenso,
por um som, puxar o cabelo
beijar a nuca e esquecer da hora...
Acordar atrasada, ir trabalhar bem humorada...
Fazer as velhas borboletas
pousadas no estômago darem rasante
e um divertido frio na barriga...
E se tudo isso vier sem rótulo,
sem apego, sem rejeição,
só com o riso à toa fácil
e as surpresas entre uma palavra e outra
Aí é o bilhete premiado da loteria

Francine Machado

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Entre o encanto e o desencanto

Estranheza te rever
o mesmo de sempre e tão novo
sem barba, com menos espinha
o mesmo riso gostoso ao falar do filho
E o familiar mal estar de fingir
que nada aconteceu
ou que tudo se passou entre duas almas,
dois corpos, dois corações, mas uma só paixão
Solitária que não encontra ressoar semelhante
ir ou não ao mágico sarau
em que tudo começou
e pode - pq não? - poeticamente acabar
Pq o sentimento tem que ser renovado
a alma precisa se sentir lavada
e o coração liberto
Deixo que essa história faça a curva do rio
se tiver que voltar, será bem vinda,
se não, doce lembrança que não se apaga
Os mais intensos são sempre os mais fugazes?
gratidão pelo retorno às letras
e me sentir viva de novo
ainda que por minha conta - e risco
Francine Machado

Da pré estréia de Devoção

"Os animais não precisam de Deus e são perfeitamente felizes - nem um único pássaro, nem uma única árvore sente falta de Deus. Eles estão todos aproveitando a vida na sua mais completa beleza e simplicidade, sem nenhuma necessidade de temer o inferno e nenhuma busca ansiosa pelo paraíso, sem diferenças filosóficas. Não existem leões católicos, não existem leões protestantes nem hinduístas. Todos os seres vivos devem estar rindo do homem, do que aconteceu aos seres humanos. Se os pássaros podem viver sem religiões, igrejas, mesquitas e tempos, por que o homem não consegue? Os pássaros nunca travam guerras religiosas; nem os animais, nem as árvores. Mas você é muçulmano e eu sou hinduístas, e nós não podemos coexistir - ou você se converte à minha religião ou se rende. ou vou lhe mandar para o céu imediatamente!" Osho, Intuição, O Saber Além da Lógica, Editora Cultrix.
Não por acaso essa leitura aconteceu de encontro à pré estréia do documentário Devoção, no Cine Bombril, em São Paulo. Ambos são de se fazer pensar, um pela lógica e ironia e outro pelos aspectos ancestrais, de transe, sensitivos, intuitivos, inebriantes. Como diria Einstein "você pode viver como se tudo fosse um milagre ou como se nada fosse um milagre"... E um dia não necessariamente transfere a fé para o seguinte, mas seguimos em busca do sentido, do que faz a diferença...

Procuram-se futuros atores...

"As pessoas do coração - os pintores, os poetas, os músicos, os dançarinos, os atores - são todas irracionais. Elas produzem grande beleza, elas são grandes amantes, mas estão completamente deslocadas numa sociedade que é organizada pela cabeça. Os artistas são considerados pela sua sociedade quase como párias, um pouco malucos, um tipo de gente insana, visionária. Ninguém quer que os seus filhos se tornem músicos, pintores ou dançarinos. Todos querem que eles sejam médicos, engenheiros, cientistas, porque essas profissões compensam. A pintura, a poesia, a dança são perigosas, arriscadas - você pode acabar simplesmente como um mendigo na ria, tocando flauta" Osho, Intuição O Saber Além da Lógica, Editora Cultrix.
Será por isso que no primeiro dia de aulas da turma noturna de artes cênicas da Faculdade Paulista de Artes ainda faltem alunos para dar continuidade à licenciatura de três anos? Justo num momento em que o governo estadual incluiu a cultura no currículo das escolas públicas e a prefeitura procure arte-educadores para os CEUs? Precisa-se dos que teimam em nadar contra a corrente: www.fpa.art.br

A delícia de entrar na história

A peça Subterfúgio não acontece num palco comum – ao contrário, ela se ocupa de um casarão dos anos 50, na rua Antonia de Queirós, que funciona durante o dia como um antiquário e que não poderia render cenário melhor para os temas carência, saudade, ciúme e traição, que nunca saem de moda.
Como é de se esperar num espaço como esse, o público anda e faz uma tímida participação – nada vexatória. Mas o ambiente intimista faz com que os atores não apenas encenem pequenas histórias – que não se cruzam – sobre essa fonte inesgotável que é o amor, mas também provoquem nos espectadores a sensação de que estão participando daquela ansiedade de um encontro às escuras, do sufoco de um namorado com uma mulher ciumenta, da dor de uma traição, da falta muito bem definida pela atriz parecida com uma vampira “que agoniza de saudade”.
A luz baixa, às vezes dependendo só de velas ou focos muito restritos a uma pequena parte do ambiente, contribui para a fotografia cativante, que faz com que a platéia torça por aquela história de carentes ansiosos que se vêem pela primeira vez, para que a ciumenta propositadamente vendada dê um passo além de sua neura, para que o casal homossexual se reconcilie e para que a traumatizada se recupere da perda amorosa com a ajuda de um sinistro conselheiro.
Os solitários que se paqueram numa primeira saída tentam esconder seus grilos e receios, o namorado devotado tenta mostrar à namorada cega de ciúme que não há garantias, o casal gay tem dificuldade de transpor a incômoda traição heterossexual e o aparente garoto de programa tenta convencer a sinistra entrincheirada em seus medos que é preciso arriscar, pois amar é como dançar, mas ela sua amargura persiste: “que se tudo na vida passa, como nós permaneceríamos” ?
A interferência sonora da rua nas cenas externas não colabora, as cadeiras firmes demais e pouco confortáveis para os pesos pesados também não. São os únicos “se não” da encenação, que traz à tona a fonte inesgotável de debates, reflexões, discussões e devaneios sensoriais: as paixões humanas. Uma surpresa e tanto vinda de jovens e pouco conhecidos atores.
Subterfúgio
Rua Antonia de Queirós, 165
Reservas: Francine 9235-0402
Até o fim de setembro
Quintas, sextas e sábados, 22h

terça-feira, 29 de julho de 2008

Busca

Persigo incansavelmente
um sentido na vida
às vezes encontro
às vezes ele se perde
Busco na ânsia
de fazer a diferença
insisto em querer melhorar o mundo
me apaixono perdida e desarvoradamente
por possibilidades, amores, amigos, livros, peças, filmes
teimo em acreditar
no outro, seja ele quem for
minha alma insiste em ser criança
ah, o mundo adulto me cansa
gosto mesmo é de esquecer que é de mentira
no palco ou na platéia
Mas é em cena
que volto para uma casa nova
incrivelmente familiar.

Francine Machado

Miedo de la intención

Que dolor es esa
que no pasa nunca
que siente que la pasión
no es eterna
que los sueños siempre
nos ponen despiertos
después de poco tiempo
Que dolor es esa
que me quitó las gañas
de intentar de nuevo
Que dolor es esa
que haz con que
no pueda ni siquer llorar
Que dolor es esa
que no quiera mas arriesgar
Que dolor es esa
que viene con miedo de la intención
El abuelo me mira y explica
es el dolor de la vida niña y no tiene curación

Francine MACHADO

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ganho de loteria por bolão de funcionários provoca abandono de emprego coletivo

Diretor de reconhecida empresa no mercado lamentava ter previsto - em vão - que seus colaboradores vizinhos de mesa não ganhariam a mega sena no bolão corporativo que fizeram no fim do mês. Os ex funcionários foram vistos comparecendo ao ambiente de trabalho com biquini, sunga, havaianas, cachorros, descalços, pendurando blusas nas cadeiras, santos nas CPUs, mural de fotos nas mesas, personalizando proteção de tela dos monitores, comendo, bebendo e sujando as mesas e os computadores. Os mesmos teriam pendurado cartazes de protesto no prédio comercial, em que supostamente revelam que não podiam personalizar os hardware que utilizavam. Em seguida uma fuga coletiva desses profissionais para um mochilão sem data prevista para o término provocou um súbito aumento de vagas na área em que atuavam. Questionado sobre eventual possível excesso de regras na empresa, o diretor nega, prefere não ser identificado, mas seu olhar denota um certo arrependimento de não ter entrado no bolão.

Se ganhasse a mega sena

Eu teria personal yoga, pilates, body balance, hidro capoeira, dança e circo que me proporcionacem um condicionamento lúdico.
Eu fundaria uma produtora cultural em que trabalharíamos descalços, com os cachorros de cada um em volta, com grama no fundo para reconectar com a natureza, sala de descompressão para gritos, com jogos, máquina de Nescafé, pão de queijo, Ferrero Rocher e acompanhamento para colaboradores com sobrepeso, computadores que não dão pau, mesas personalizáveis, zero regras corporativas sem pé nem cabeça, só clientes culturais, sociais, zen, de saúde e educação com conteúdo, levaria um palco itinerante com comédia e drama para lugares onde nunca passou nem sombra de teatro, estudaria fotografia, leis de incentivo, espanhol, italiano, campos energéticos, teatro e design.
Me renderia à esbórnia consumista de retiros que me deixa no vermelho.
Comeria todos os dias em restaurantes ovolactovegetarianos.
Conheceria todos os botecos da Vila Madá, Pinheiros e Vila Mariana antes que fechem.
Veria todas as peças e filmes, compraria todos os livros, teria um MP3, câmera digital, um celular bandeiroso.
Compraria e aprenderia a andar numa vespa a prova de retardado sem marcha.
Aprenderia a costurar, cozinhar, cantar e modelar em material maleável.
Viraria arte terapeuta, ensinaria TV comunitária no Heliópolis.
Faria terapia transpessoal, corporal, somaterapia, regressão...
Mochilaria pela Espanha, Itália, França e Leste Europeu.
Teria dois filhos nas escolas mais alternativas e caras dessa cidade.
Me tornaria arte educadora e ensinaria no colégio municipal que está implantando o projeto de pedagogia libertária escola da ponte.
Teria um closet de bolsas, sapatos Selo e Thádiva, roupas Elvira Matilde, Castilho e Brazoo.
Me oficializaria como o baluarte da resistência alternativa hippie retardatária entre meus amigos.
Publicaria meus livros, poesias e histórias em quadrinhos.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

SONETO DE ANIVERSÁRIO

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos
Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.
Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura
E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura:
Que vê envelhecer e não envelhece

Acredite se quiser, esse e os dois anteriores são de Vinicius de Moraes, descoberta recente de uma surpreendente face mística do saudoso poeta: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080723/not_imp210520,0.php

TARDE

Na hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas
Meu espírito te sentiu.
Ele te sentiu imensamente triste
Imensamente sem Deus
Na tragédia da carne desfeita.
Ele te quis, hora sem tempo
Porque tu eras a sua imagem, sem Deus e sem tempo.
Ele te amou
E te plasmou na visão da manhã e do dia
Na visão de todas as horas
Ó hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas.

SONETO DE LONDRES

Que angústia estar sozinho na tristeza
E na prece! que angústia estar sozinho
Imensamente, na inocência! acesa
A noite, em brancas trevas o caminho
Da vida, e a solidão do burburinho
Unindo as almas frias à beleza
Da neve vã; oh, tristemente assim
O sonho, neve pela natureza!
Irremediável, muito irremediável
Tanto como essa torre medieval
Cruel, pura, insensível, inefável
Torre; que angústia estar sozinho! ó alma
Que ideal perfume, que fatal
Torpor te despetala a flor do céu?

Até os Poetas "Sabonetam"

É certo que invadi o seu almoço
mas a troca de idéias literárias foi irresistível
E-mails e torpedos instigadores
"escreve você também"
conhecendo um natureba depois
não nos importamos com os atrasos nos pedidos
Entre um latino e outro da mostra
descobrimos amiga em comum
Mas não foi naquele dia que sua massagem
me fez perder a linha
No meu primeiro sarau, a história ficou pública em soneto
ao vivo e a cores
Não é todo dia que me deixam
vermelha como meu cabelo
Troca de poemas e frases de efeito pelo celular
inteligência é mesmo afrodisíaco
Mais uma noite bem e mal dormida
e o seu receio com minha falta de freio
quem é que segura a onda
com essas palavras tão adoráveis?
Até os poetas "sabonetam", mas a gente perdoa
num encontro inesperado noite adentro
você com cara de Rodrigo Santoro
lembrando pessoas especiais que adoro
combatendo a ansiedade e amando no escuro...

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Aos meus companheiros nadadores

Existe um rio que agora flui com muita rapidez
é tão grande e agitado, que existem
aqueles que ficarão com medo.
Eles tentarão se agarrar nas margens.
Eles sentirão que estão sendo dilacerados
e sofrerão imensamente.
Saibam todos que o rio conhece seu próprio destino.
Os antigos dizem que devemos
nos soltar das margens,
nos empurrar para o meio do rio
mantendo nossos olhos abertos e nossas
cabeças acima da água.
E eu digo:
Veja quem está lá no meio com você e celebre junto.
Neste momento na história, nós não
devemos ver nada pessoalmente,
muito menos a nós mesmos.
Porque no momento em que fizermos isto,
nosso crescimento e nossa jornada espiritual
irão se interromper.
O tempo do lobo solitário já se esvaiu.
Vamos nos unir, banir a palavra
esforço de nossas atitudes e do nosso vocabulário.
Tudo que nós fizermos agora,
terá que ser feito de uma forma sagrada
e envolvida de genuína celebração.
Nós somos aqueles que nós mesmos aguardamos

Mensagem dos anciões da tribo indígena norte americana Hope

De manhã abençoada

O bom humor dela entrou como um acinte
no escritório de sérios e sem graça
A ponto do diretor admitir a inveja branca:
- Queria ser assim logo cedo.
Das risadas de colegas admitindo sentir
o que só ele verbalizou abafarem seu conselho espontâneo:
- Namore mais então!

Não resiste à tentação e ouve o CD
disfarçando com fone de ouvido
a Hilda Hilst e Zeca Baleiro
violentado o ambiente corporativo

Almoça onde se conheceram
se desculpa com a caixa ou dona - não sabe ainda
de tanta queixa pelas etiquetas tão pouco fiéis
aos pratos do quilo com sabor de comida da mãe
conta que lá conheceu um misto de poeta, escritor, revisor e redator

Carrega no pescoço o meio terço meio colar
feito pela cantora que o produziu recitando mantra
e abençoando a noite perfeita do 1o sarau dela
Duas vezes vermelha de timidez na mesma semana - raridade!

Uma pela declaração ao vivo e a cores
Entre músicos, poetas e cantores - em casa!
Outra pela trilha sonora da manhã abençoada
ganha antes do horário comercial

Suspira sonhando com a publicação dessa troca de versos
tem medo quando admite sonhar em se casar num sarau
E ri certa de sua pretensão de que é a única bem amada da empresa
agradece a cada santinho pendurado no pescoço
a volta da escritora poeta inspirada adormecida.

Francine Machado

Sobre como chegar nem humorada numa manhã de trabalho coletivamente desfavorável

Faça mais amor e menos sexo. Baixe o freio de mão e tenha menos medo. Confie mais e diminua as dúvidas. Peça mais e mande menos. Faça seu melhor independente dos parceiros de trabalho colaborarem. Tome mais sorvete e suba menos na balança. Caminhe mais e fuja do ônibus ou carro parado. Durma menos e nade mais. Sinta-se mais ridículo e julgue menos. Pise no pé de um professor de dança, mas não se convença de que não gosta ou não sabe. Acompanhe a 3ª idade numa hidroginástica e fique menos atrás da TV. Estude o que ama, não o que dá dinheiro. Agradeça mais e peça menos. Vá de peito aberto e crie menos expectativa. Ande mais descalço e não se importe em sujar o pé. Permita-se rir como na infância e coma menos as unhas. Leia poesia e não auto-ajuda para aspirantes a executivos. Escreva uma história que encha o coração, não pretenda publicar um best seller. Deixe que o cinema e o teatro te façam pensar, aprender ou te toquem, não saia dessas salas escuras do mesmo jeito que entrou. Estude uma língua pouco manjada, não conquiste o certificado Toefl. Engaje-se numa causa, não acredite que nada pode ser feito. Procure sua turma, não bote fé que não estará “em casa” entre nenhuma tribo. Faça o que ama, não o que rende o carro do ano, a cobertura dos sonhos e as aparências de uma pseudo felicidade vazia. Descubra um restaurante com ar de cozinha da avó, não um que constranja quem não sabe que talher usar. Encare um bolinho de chuva e conte menos as calorias. Tome mais chuva e carregue menos capa contra água imprevista. Corra para o sol no inverno e se esqueça na sombra no verão, tenha menos saudade da estação seguinte ou anterior. Dê mais flores e menos vale-presente. Ouça mais música artesanal, regional e de raiz e menos as mais tocadas. Faça uma caricatura e jogue o esquadro e a régua para escanteio. Arrisque a tragicomédia, não o entretenimento barato. Dance como se ninguém estivesse vendo, não restrinja sua criatividade corporal. Medite e ouça mais Deus, peça menos pela loteria, título de time campeão ou contas no azul.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Quase Amor

Este estado intermediário
qualquer coisa entre a amizade colorida e a paixão
Esse quase amor
O torpedo inesperado
um convite em cima da hora
a expectativa de algo mais
uma amiga em comum
os clichês de que nada é por acaso
que o mundo é mesmo "muito redondo"
as afinidade literárias, cênicas
a surpresa dos talentos musicais
meio poeta, meio ator
O que fica no ar
Esse não saber
Um limbo de encanto com algum desconforto
as borboletas pousadas no estômago
voltam a dar rasantes
a graça da dúvida
a bolha de sabão do quase amor
pairando no ar

Francine Machado, poeta libertária irrompendo na reunião mega corporativa

Oceano

Essas idas e vindas
têm um quê de mar indeciso
já molhamos os pés outras vezes
mas redemoinhos afastaram nossas praias
e tive dó de te deixar de conchas na mão
com olhar sem saber onde pousar

Arriscamos novos mergulhos
com a marola entre os joelhos
porém nossos encontros são feitos de desencontros
e me escapas pelos dedos
feito a "areia que canta" em Brotas

Não fazemos bolhas n´água
Não nos permitimos perder o chão sob os pés
A água continua salgada, mas seu gosto tem outra textura

Assistimos o vôo alto das gaivotas
e invejamos as braçadas corajosas das crianças ao longe
As conchas caem n´pagua
como mudas testemunhas de um quase amor que não aconteceu

Soltamos as mãos e caminhamos sozinhos
de corações meio incompreendidos
levando maresia meio nostálgica e melancólica
entre os lábios

Francine Machado

terça-feira, 15 de julho de 2008

O baque do documentário Estamira

Estranhou que um filme focado na deficiência mental e restrições sociais da personagem principal não a deixasse ligeiramente mais down que de costume. Entendeu o que os amigos do teatro queriam dizer com a definição loucura lúcida da retratada. Seus desvarios fazem muito sentido, especialmente nos pontos em que critica o quanto os remédios psiquiátricos a deixam dopada, que as pessoas do lixão são escravos disfarçados e que sua depressão não tem fim – perfeitamente compreensível pelo histórico de abuso familiar, bordel, briga de faca com marido traidor, estupros... São tão tristes o cenário, a trilha e seus desvarios que chega a ser poética a definição “minha cabeça parece um copo com sonrisal”. Que Deus que nada, ela protesta, pois o mesmo não parece comparece ao Aterro Sanitário de Gramacho. Milagrosamente, do lado de cá da TV, algo divino a fez ficar constrangida de não conseguir gostar do seu trabalho – e a pobre catadora adorar o lixão! Vontade de encenar e escrever sobre loucura que sua mente também é um palco criativo em constante ebulição...

Carta aberta ao estômago

Há anos não nos entendemos, mas só agora resolvi bater um papo de peito aberto contigo. Não deixa de ser original o fato de que em todo o histórico de médicos e exames dos últimos anos, você ser o único a provocar enjôo e buraco no estômago ao invés de dores e azias. É uma gastrite criativa, admito. Não tenho cuidado muito bem de ti nos últimos tempos e não me lembro de ter tido preocupação com o que recebia desde que me entendo como gente, perdão. Mas asseguro que certas orgias gastronômicas só foram viabilizadas pelo estômago de avestruz infantil – como salgadinhos sabor isopor, sucos de cores duvidosas em embalagens de plástico, sorvetes quentes de máquinas estrategicamente localizadas na periferia e salgadinhos Elma Chips e Torcida. Essas esbórnias da alimentação não serão mais sequer cogitadas, isso lhe asseguro. Mas podíamos entrar num acordo que satisfaça ambas as partes. Como diria meu amigo, antes tarde do que mais tarde. Devo corrigir o péssimo hábito de meter qualquer fast food boca abaixo a fim de me livrar da sensação de morrer de fome na Somália, mas por favor, entretenha-se mais entre os pequenos lanches ao longo do dia. Sei que já o deixei horas a fio esperando por combustível e isso mesmo deve ter gerado essa famigerada gastrite, mas havia uma incomum preguiça de parar de brincar, escrever ou fazer qualquer coisa quando roncava. Entretanto descobri a delícia da alimentação ovolactovegetariana a ponto de querer virar mestre cuca vegan e dar exemplo aos futuros filhos. Tende paciência, tolerância e compaixão com minha progressiva mudança, amigo estômago. É real minha intenção de comer melhor, mas são tão caros os orgânicos e naturebas, que talvez seja mais barato bancar o câncer em alguns anos. Com o perdão do humor negro à parte, nunca mais deixaremos de interagir de três em três horas, nem minha mochila sentirá falta de iogurtes, frutas, barrinhas. Mas por favor, não me enlouqueça com essa sensação de saco sem fundo – o que provocou uma engorda de meia dúzia de quilos digna de me fazer sentir um boi indo pro abate. Colabore camarada, que essa falta de estofo provoca a ingestão de qualquer bobagem pelo caminho, na tentativa desesperada de dar subsídio à sua digestão e à minha paz momentânea digestiva. Ainda descubro quem ajude a curar de vez uma praga crônica, até lá, levantemos bandeiras brancas em sinal de boa vontade com as negociações de paz.

Fornecedor de Puteiro

Estranhou o vizinho de luzes esfuziantes na rua de cima, sempre com engravatados estilo guarda roupa 3 X 4 à frente. Não resistiu ao ímpeto de quem nasceu repórter e morrerá perguntando mais do que o bom senso aconselha ao leão de chácara em questão, quando lhe esclareceram: “é um clube privê”. Não combinava com a antiga fama de novelas televisivas da “casa da luz vermelha”, pois ostentava neon verde ligeiramente brega e retrô. Praticamente esqueceu da existência do distinto estabelecimento comercial, já que não prestava serviços para nenhum jornal, revista, site, rádio ou TV que possibilitasse um “furo de reportagem”, com o perdão do trocadilho infame. Meses depois, se pegou rindo sozinha do local novamente. Encontrou uma perua totalmente adesivada, “bandeirosa”, estacionada à frente, com site e desenhos de “possíveis moças de vida fácil”. Imaginou como seria um fornecedor de puteiro. A negociação. “O movimento está muito acima do esperado? Levaremos reforços rapidamente! Precisam de nota? Loira, ruiva ou morena? Barba, cabelo ou bigode? Cama, mesa e banho? Gabriela Cravo e Canela ou loira gélida irlandesa? Descarrego na entrada de serviços ou na frente da casa? Gritos ou sussuros? Sadomasoquista ou serial killer? Frígida ou Anais Nin” ? Nada de moral ou bons costumes influenciam estas linhas, até pq não faz parte da tradição família e propriedade, mas não deixa de ser divertido exercitar o ácido humor cáustico que virou sua marca registrada...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Carpe Diem... ou perderá o "timing"!

Quando separou ouviu do ex que queria ser "aborrescente" aos quase trinta. Foi uma grata surpresa: e não é que pode ser divertido separar? Foi a todas as baladas, colecionou amigos coloridos, fez programas de índio como o rally a pé (http://exagerodescontrol.blogspot.com/search?q=rally) e um ano depois entrou no bode de chegar fedendo a cigarro, ficar apertada tentando acompanhar as várias tribos nas quais transita e com saudade de amor e overdose de paixão. Nunca é tarde para curtir, como sempre diz, mas perdeu o timing do pique teen, mas aceitou que as fases vão e vem e está mais seletiva com suas saídas e amigos coloridos.
Reencontrou um amigo no MSN que sempre admirou, perguntando por colegas bonitas, inteligentes, espiritualizadas... Não resistiu a uma fase em que quase se engraçaram e perguntou se não podia ser ela. Ouviu que logo que separou ele a encontrou no supermercado e levou um susto por se sentir atraído, mas quando a visitou no antigo apê, já separada, não rolou mais química, embora achasse que estava ainda mais bonita. Perderam o timing dessa potencial abortada história, mas entendeu que gostar e desgostar fogem à razão, explicação e racionalidade e começou a agitar uma amiga para ele.
Reviu a amiga do antigo trabalho no aniversário do namorado dela, com direito a comida árabe e colegas de rádio e TV, que não estão contentes com o que recebem, mas com o que fazem sim. Sente que não está contente nem com um e nem com o outro. Quase morre de saudade doída de redação. Mas não está dando conta de bancar sua esbórnia de pré datados do surto consumista zen intelectual parcelando cursos e retiros e dos plantões devezemquandários de sua atual prisão trabalhista, muito mais espaçados que os de redação. Perdeu o timing de voltar para redação, mas sabe que esse cárcere semi aberto é temporário, pois já está estudando para outra paixão - a cênica.
Amou o curso de espanhol vivencial feito com professor divertido como os de cursinho, no espaço que mais se sente à vontade - o palco e com uma turma reduzida o suficiente para treinar conversação. Porém o trabalho, o trânsito, o cansaço, o stress e a necessidade de descompressões periódicas com os amigos e familiares a impossibilitaram de estudar tanto quanto gostaria. Perdeu o timing de cursos que exigem dedicação extra classe, mas prometeu para si mesma que ainda correrá atrás do prejuízo num mochilão com direito a pit stop na Espanha.
Passou três vezes na Une num dia de folga para tentar adiantar a carteirinha de estudante, já que a de transporte leva 15 dias pela faculdade. Como é jornalista e não sabe fazer conta, provaram que ficaria mais caro fazê-las separadamente. Convidada para um churrasco de campanha política de candidato ligado ao PT, carente de participação no movimento estudantil durante sua estada acadêmica, filha de pai sindicalista e disposta a perder o preconceito contra aborrescente por realmente querer trabalhar com arte educação, compareu. A overdose de cigarro a fizeram ficar do lado de fora da casa, o baralho a cansou, questionou o trabalho de formiguinha do PC do B e Psol, o churrasco atrasado às 14h e a gastriste a obrigaram a fugir para um quilo e passar a tarde com uma amiga tomando sol no parque de papo para o ar. Perdeu o timing do movimento estudantil.
Adota o carpe diem como filosofia de vida e jura que não perderá o timing de mais nada! Antes se arrepender de ter feito do que de não ter tentado...

terça-feira, 24 de junho de 2008

Faz de conta que não é da esquerda...

Teve que disfarçar que era a única a torcer pelo MST quando eles invadiram as outras unidades do Grupo que a prisão tranalhista atende, num dia em que sorria escondido atrás da tela do computador, mas conseguiu passar batido.
Levou ao curso de espanhol que faz à noite num teatro a música Justicia, Tierra y Libertad do Maná para ver que o professor aprova a seleção que fez para a interpretação final que encerra as aulas do semeste. El maestrino pediu um discurso mais panfletário e figurino à altura.
Descobriu que o namorado da prima mais engajada num raio de mil quilômetros tem camisetas para sua divertida apresentação. Brincou com os chefes menos xiitas que viria com a blusa do MST para conferir se dava justa causa. Um deles já avisou que é humor negro demais para esse escritório. Riu sozinha a tarde inteira, imaginando outro dia de fúria, como na manhã em que planejou comprar cigarros, não voltar mais e os amigos da equipe lembrarem que não fuma, mas nunca mais conseguirem contatá-la novamente...

Como as fotos do filme El Pasado...

Já grudei adesivos nas fotos do ex de tanto as amigas insistiam que não trocava as que estavam nos porta retratos de casa pq não esquecia ele e não pq não parava em casa e gostava da minha cara nas fotos... Já xinguei quando percebi que ele pedia as antigas fotos para rasgar, mas depois encontrei fotos de amigos e familares dele - que obviamente tomaram as dores do dito cujo na separação, devolvi as imagens pedindo desculpas e com algumas minhas para ele rasgar como prova de boa vontade, embora insistisse que se queimássemos tudo numa grande fogueira de caça às bruxas da memória a década juntos continuaria lá atrás.
Já desconsiderei as fotos do ex maníaco do ano passado num limbo perdido no buraco negro do meu computador pq não encontrei nele o cara que me fez apaixonar em nosso último encontro, prova de que Deus existe e tira mesmo com a mão quando pedimos desesperada e urgentemente.
Ainda carrego na agenda a foto do ex desse ano, que é melhor amigo do que namorado, pois me ajudou a socorrer uma amiga em comum num hospital e me fez dar graças a Deus da separação quando soube que voltou a tocar mas num grupo de pagode - já é "uó" ser a "mina da banda", mas um som desse não tem adicional de insalubridade nem atração ou coisa que o valha que compense...
E tem ex cuja foto nem lembro onde está de tanto que ficou nas memórias perdidas da "aborrescência".
Tenho amigas que se arrependeram de queimar fotos de ex, amigas que rasgaram fotos das ex do atual e não contaram com meu apoio quando contaram e amigas que não lembravam quem era o ex da tal foto encontrada em meio às outras imagens... E você? Como lida com as fotos de um passado distante, pero no mucho?

Estréia do Eternamente Cabaré

Sabe aqueles projetos pessoais que absolutamente nada contribui?
Há um ano comecei o Promon Cabaré, projeto de montagem inspirado no filme de Liza Minelli, às sextas à noite no Recriarte, perto da Livraria da Vila...
Uma troca de emprego pelo caminho me fez chegar metade do curso atrasadíssima, foi a turma "mais turista" que a escola já teve, tivemos colegas na equipe tiveram dificuldades de memorização e coordenação até a véspera, tentei dançar mas desisti depois de um semestre de sofrimento, quis cantar, mcas cabulei aula por uma amizade colorida que não passou da fase de experiência, a professora mandou eu e os demais desafinados dublarem mas depois preferiu que encenássemos de boca fechada, as luzes e a reforma do teatro ficaram prontos aos 45 do segundo tempo, o elenco não ensaiou com a presença de todos a não ser no dia da estréia e trouxe da 25 de Março sem querer uma peruca black power quando precisava de uma black chanel lisa...
E como o deus do teatro Dionísio realmente prova que o palco é a maior possibilidade de transcendência da obviedade e limitação da vida, nos tornamos milagrosamente um grupo sábado à noite e o 1o dia foi a glória, glória aleluia. Em tempo: encenaremos mais 3 sábados, 19h e 21h, Fradique Coutinho, 994, 1 kg de alimento.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Momento Sex and Teh City da semana...

A gente só é capaz de se mostrar muito interessante quando o fófis em questão não nos abala pq quando as borboletas voam no estômago perdemos o senso de noção, falta de experiência ou amor próprio? Só sei que quando tudo que quero no bofe é a amizade dele, fico mais atraente que nunca - seja pelo conteudo ou por todo o resto... Vai entender...

Para os que andam na contramão...

...pode ser perigoso sozinho,mas no grupo Mística e Revolução, que começou com o teólogo Leonardo Boff, ganhamos força. É como voltar para uma casa nova, mas inacreditavelmente familiar. A cara das amigas que "não se sentem desse mundo" e "não se prestam a nada que a sociedade espera delas". Eles acreditam que temos sim que acreditar na possível mudança no mundo, mas que a revolução pessoal também é necessária - daí a defesa da meditação, nem sempre praticada por todos os integrantes desse movimento. Parece meio retrô, romântico e idealista sonhar com o fim da exploração do homem pelo homem e a reforma agrária e não, não temos a mais vaga idéia de como transformar o sistema capitalista opressor, careta e explorador. Mas podemos começar nos relacionamentos que estão mais ao nosso alcance, não tratando como propriedade filhos, namorados, amigos - só aqui já se tem trabalho par auma vida inteira! Mas como diria a Soninha, nem por isso podemos deixar de tentar, só por ser difícil. É consolador aprender no curso de marxismo da Ação Educativa, que se o homem se auto constitui, também constituiu essa sociedade, pode constituir outra, onde desejar acumular capital não terá espaço, assim como entre os índios não se trabalha para ter várias ocas e barcos. Entre eles, o trabalho os realiza, não os mortifica. Aos que acreditam que não se pode mudar essa sociedade, "vamos falar de sapatinho" e passar pro próximo post. Mas para ainda escuta o lado Che que se recusa a entregar os pontos em cada um de nós, acessem: http://www.mirante.org.br/01

Me perdõem bichinhos

Depois de meses com um cansaço e falta de vontade de fazer qualquer coisa, a médica e nutricionista resolveram o mistério: nada de depressão, mas estou no prólogo do princípio do prefácio do início da anemia. E ouvi horas a gastro e a mãe judia sem ascendência semita insistirem para que volte ao menos temporariamente a comer carne. Gozado! Elas acham que sou xiita a ponto de continuar passando mal e deixar a saúde degringolar de vez. Claro que dá uma dozinha, minha prima tem razão, não é possível ter um cachorro em casa e gostar somente dele, pois os mamiferos têm o mesmo olharzinho adorável. Mas preciso dar cabo dessa falta de ânimo tão pouco usual em mim. Foi uma experiência e tanto tirar a proteína animal aos poucos. Meditadores, yogues e massoterapeutas têm razão: diminuímos a raiva, impulsividade, ódio. Lugar comum dizer que se sofrem para morrer, também teremos consequência ao comer. Clichê repetir todos os impactos ambientais e o quanto se desumaniza os trabalhadores de abatedouros tão bem documentados em A Carne É Fraca. Mas como brinquei com minha amiga do teatro: é tão pesado manter uma dieta natureba, sem agrotóxicos, carnes e afins, que deve sair mais em conta bancar o câncer em consequência disso daqui uns anos. É um xiste, não me apedrejem!