sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O que esse mal estar faz aqui?

Nem mesmo os quatro anos de rompimento e reconciliação com a meditação foram suficientes para evitar que pela segunda vez sentisse um mal estar incômodo ao saber de antigos amigos coloridos e namorados se engraçando com amigas. Nem mesmo sabia se colocava ou não elas entre aspas, pois não podia reclamar que havia sido apunhalada pelas costas, ambas foram honestas. A sinceridade é mesmo libertadora, mas nunca estamos preparadas para ela, apesar da capacidade de jurar de pé junto que a mentira é pior. Finalmente entendeu o que sua professora queria dizer com a definição “bem aventurada ignorância”. Não podia ser ciúme, não voltaria com nenhum deles, estava mais que aprendido a duras penas que eram incompatíveis. Estava definitivamente noutra. Percebeu que não era nada evoluída como as amigas a consideraram quando soube da primeira amiga a se engraçar com um antigo rolo e sentir alívio quando ela abriu o jogo, sem raiva, nem choro, nem vela. Não era capaz de ter ciúme nem no relacionamento assumido a dois, como podia viver isso com relação aos falecidos, páginas mais que viradas? Lembrou do mestre budista explicando que o ciúme é a inveja da felicidade do outro com algo que não seja sua companhia. Não havia racionalização, entendimento, explicação ou classificação possível para aquele estranhamento, aquele meio termo entre desencanar e assumir que incomoda a felicidade alheia, uma espécie de limbo entre o desapego e o orgulho ferido. Como pode ficar até feliz quando a primeira amiga veio contar que não resistiu ao poeta, que curou sua abstinência literária e ensinou que o termômetro para medir a saúde dela era a distância que estava ou não de por no papel, e agora não conseguir se livrar daquele soco no estômago não recebido? Não sentia mais aquela fissura por nenhum deles, o que não abalou sua frágil estabilidade emocional e os outros dois, que aproximando de amigas a faziam perder as estribeiras. Mas uma delas pedia um alvará, uma benção, um passe livre, um amém para o tolerável inaceitável. A “barraqueira” adormecida nela queria subir nas tamancas, rodar a baiana, reativar o palanque que tinha na garganta. Um resquício de bom senso veio à tona. Desejou que fossem felizes a léguas de distância, o máximo de civilidade que conseguiu. E estranhou não conseguir arder na mesma proporção com a nova possibilidade que gentilmente pousou em sua vida há pouco tempo. Estava mesmo fora do prumo, pois concordou quando a prima lhe sugeriu adotar a lápide de outro intenso como ela: “digam ao mundo que fervia”. O morno neutro calmo tranqüilo estranhamente instalado em sua vidinha recém renovada como desejava podia ser um comprovante da doença pós moderna atestada pelo médico, ainda relutante dentro dela? Como todos os aspirantes a artistas mal resolvidos, sentia que escrevia para não morrer, não sufocar. E se renovava. Sempre

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