quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ode aos cinemas de rua...

...eles são poucos e ostentam a luta inglória contra as muitas salas dos insípidos shoppings paulistanos. Ficam em sua maioria, próximos à Paulista e exibem em sua maioria produções alternativas, européias, nacionais, asiáticas, latino-americanas. Dois deles são dos poucos que aceitam cartão de crédito até no dia dos ingressos mais baratos, o Belas Artes e o Espaço Unibanco. Têm patrocinadores em seus nomes, o que não lhes tira o charme dos encontros à porta das salas, da pipoca quentinha que não nos leva à falência, dos charmosos cafés onde se reúnem os cinéfilos de carteirinha. Quando ligamos a caminho com uma dúvida qualquer é um atendente e não uma odiosa gravação, que nos responde a qualquer pergunta. Eles não deixam cinco de suas salas passando o BlockBuster previsível e lucro garantido da temporada. Nem têm lanchonetes com propagandas de "combos" tão agressivas a ponto de nos questionarmos se estamos na ante sala do telão ou na Disneylândia. O cheiro da manteiga da pipoca delas não é forte o suficiente para provocar náuseas. Os encontros com aborrescentes e pimpolhos menores são mais raros. A programação não é óbvia. Em algumas delas, tão antigas, o tamanho das salas enche os olhos - como no Gemini - confira enquanto é tempo! Os carpetes podem ser tão retrô quando a casa dos avós. Amodoro vocês, salinhas alternativas da região central!

Tenho uma curiosidade de repórter...

...de como é viver num prédio com apartamentos que são verdadeiros latinfúndios urbanos, feito esses aqui do Itaim Bibi, a "Beverly Hills" brasileira. Sentirão esses abastados senhores mal estar maior ou menor que o nosso quando a miséria nacional os toma de sopetão pelas ruas da cidades? As sacadas, como dizia uma amiga, permitem que a pessoa brigue com a família e fuja para a varanda. Terão uma pontadinha de dor no coração ao passarem pela favela à beira do Shooping Daslu, na Vila Olímpia, ao lado desse bairro que me lembra uma irmãzinha carioca, cujos passeios por Sampa traziam recordações das menções de ruas do Banco Imobiliário? Ou eles "já não têm olhos de ver"? Sempre achei que uma das piores profissões do mundo é a do segurança - na maioria das vezes em que reparo neles, estão às moscas. Quando meditei com um deles, admitiu que sentia que não merecia o que ganhava por ter passado a noite só vigiando e se boicotou o suficiente para mudar de turno e tirar menos. Coincidência ou não, ontem estudei o arquétipo que pratica a "auto sabotagem". Surreal viajar tanto assim numa simples ida ao banheiro, que fica ao lado de um dos prédios mais fashion do bairro. [suspiro]

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Como disparar numa mulher a síndrome "Corra Lola Corra"

Logo no primeiro dia a convide para seu Kinder Ovo, diga que conhecerão "nossa casa" e unirão os patrimônios.
Ligue para sua mãe - aquela para quem nenhuma mulher é suficientemente boa para aquele filho espetacular que ela pariu - e faça sua recém ficante se apresentar desajeitadamente sem ter o que dizer, que sogra é coisa que não se quer conhecer nem depois de trocentos anos juntos, imaginena noite do primeiro beijo.
Chame a para jantar e fique com ciúme do garçom.
Ligue para a bonita enquanto ela está no banheiro do restaurante, reclame que está demorando e faça de conta que não sabe que banheiro feminino tem sempre mais fila que o masculino.
Tente dormir grudado a noite inteira a ponto dela ter calor numa noite fria, acordar sufocada e te empurrando para o outro canto da cama.
Repare em cicatrizes esquecidas como se elas fossem realmente relevantes.
Ligue dez vezes em três dias e mande torpedos o suficiente para ganhar carimbo de o maior carente de todos os tempos.
Não fale coisa com coisa quando encontrar com um colega e ainda estiver com a bonita, conversem em dialeto perifa incompreensível.
Fume cigarros de qualquer espécie até que ela tente relembrar há quanto tempo não tinha a famigerada bronquite, rinite ou alergia a qualquer componente que produza fumaça.
Peça mais do que dá, desobedecendo à regra básica "é dando que se recebe".
Solicite o impensável: para correr riscos e tente ganhar confiança só na lábia.
Peça para ser obedecido somente esta noite e garanta que depois só dirá amém.
Tente mandar nela sem disfarçar.
Diga que ainda dirá eu te amo e ouvirá reclamações de que a declaração demorou pra sair.
Reclame do quanto o signo dela é dominador.
Tente ligar a TV, o som, tocar violão ou voltar para o oba oba quando ela começou a arriar a bateria, babar no travesseiro ou não dizer coisa com coisa de tão bêbada de sono.
Relembre as ex mais maníacas que já teve.
Jogue qualquer chaveco furado do tipo "seu pai roubou todas as estrelas para fazer seu olhar brilhar assim?"
Quando ela contar algo de um amigo, pergunte se é ex e solicite detalhes sórdidos.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Pérolas do Tempo de Transcendência

“Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o olhar à frente mais uma vez, elevo, só, minhas mãos a ti, na direção de quem eu fujo.
A ti, do fundo do meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, tua voz me pudesse chamar.
Sobre esses altares estão gravadas em fogo essas palavras: ‘Ao Deus desconhecido.
Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos
Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo.
Eu quero te conhecer, desconhecido.
Tu que me penetras a alma, e qual turbilhão, invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero te conhecer, quero servir só a ti”.

Nietzsche, também do livro do Boff

Rumi

“Qdo está comigo o amor não me deixa dormir.
E quando estás comigo, as lágrimas não me deixam dormir.
Teu amor chegou ao meu coração e partiu feliz.
Depois retornou e me colocou o gosto do amor.
Mais uma vez foi embora.
Timidamente lhe pedi que ficasse comigo alguns dias.
Então veio, sentou-se junto a mim e esqueceu de partir”

Direto do meu momento abençoado lendo Tempo de Transcendência, do Leonardo Boff.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Mais do mesmo

Não pode deixar a garrafa d´água em cima da mesa, tem que escondê-la na gaveta, nem é permitido tirar os sapatos ao lado da CPU do próprio computador, derrubar a bolsa embaixo do computador sem querer e expor a bagunça pessoal, espalhar papéis, bloquinhos e agendas ao lado do teclado, ter porta-retratos, santinhos, fundo de tela ou descanso personalizado, deixar o celular fora do modo vibratório, ficar torta na cadeira pq o ar está congelando, tentar fugir corporalmente comendo a unha ou se escondendo atrás do cabelo pq a chefe da chefe só detona. Qual o caminho mais lugar comum? Procurar outro trabalho? E quando se está "brochada" o suficiente de nadar e morrer na praia, correr e empacar no mesmo ponto, batalhar e se ver no mesmo problema, trocar seis por meia dúzia, bosta por merda, várzea por semi várzea, meia boca por 1/32 de boca? Tem, mas acabou. Passa mais tarde. Pára o mundo que ela quer descer.
E depois de se cadastrar em site de namoro, ser apresentada para amigos dos amigos, conhecer prospects em lugares imprevisíveis, ressuscitar amigos coloridos sumidos, mandar e-mail, torpedo, ligar e eles... Se aproximarem meio centímetro? Como dar um chega para lá na preguí existencial amorosa?
Bem, os cursos, relações familiares e amigáveis vão bem obrigada, apesar de como dizia a personagem diarista da TV Globo pro Todo Poderoso: "tá caprichando heim colega?" Se pergunta se dançou atoladinha na mesa da Santa Ceia ou usou o Santo Sudário como canga?

Todos os pedidos surreiais numa só aula de yoga

Verilha esquerda para dentro e direita para fora! Quadril esquerdo em direção à parede! Ativa o cóccix! Sacro para dentro! Externo em direção à cabeça! Gire a coxa direita para dentro, esquerda para fora e joelhos no movimento contrário! Alonga a lombar! Bola de dentro do pé para cima e bola de fora do pé para o centro. Pernas em 90 graus, em 15, em 45, em 30, em 100 graus, em 60... Ativa a patela e estica a perna. Relaxa agora que está de ponta cabeça, com faixas presas à parede apertando suas pernas. Essa dor passa, acostuma. A sargenta do estilo Iyengar, provando que estudou mesmo com algum ditador nazi alemão, vai dando tapas nas partes do corpo que não consigo sentir e ativar. Detalhe: ativar é diferente de contrair! Desculpe minha ignorância, meus ossos e recônditos músculos nunca dantes investigados se recusam a “comparecer”, assim, intimados à queima roupa. Socorro!

Renovação de feriado

Gostar mais de paquerar os professores de yoga do que da prática propriamente dita. Sentir tanta gratidão, presença, contentamento na presença de Deus na cachoeira e entre as montanhas, a ponto de não conseguir segurar o “choro bom”. Desdenhar da propaganda das meditações ativas da colega e sentir que suava a sua velha versão, se ver renascer, se ver grávida, vibrar tanto a ponto de quase cair para trás na vivência. Sentir saudade das 8h de computador depois de 2h de cavalo. Ter dó da égua. Sair do retiro e enfiar o pé na jaca na pizzaria da cidade, aceitando todas as ofertas de vinho, Malzbier, tirar sarro da calma irreal e dos pedidos nonsenses dos instrutores de yoga na fogueira. Conquistar a unanimidade da recomendação dos colegas que tem mesmo é que virar atriz. Esquecer as lembrancinhas compradas na cidade, o chale e a garrafa d´água da Nike no carro da carona pra casa. Conseguir jantar e passar o domingo à noite com os pais, sem pressa, nem briga ou vontade de ir embora correndo. Obriga Yoga Flow. Saudade de São Francisco Xavier.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Dia de Fúria e Momentos Sussa - tudo ao mesmo tempo aqui e agora

Andou sonhando com momentos Dia de Fúria do tipo: sai para comprar cigarros e os companheiros de trabalho reparam:
- Ué, mas ela não fuma!
E nunca mais retornaria, seria encontrada, deixaria rastro. Daria um sorriso com o canto da boca ao ver o número do serviço e dos colegas de trampo chamando no celular, fazendo qualquer outra coisa, em qualquer outro lugar, mais braçal, sensível, espontâneo, menos engessado.
Pouquíssimo tempo depois se diverte numa reunião improvável, com o sócio e diretor bam bam bã, que revelou ter participação societária na pousada em que fez retiro de yoga no último feriado, fala de poesia, vivência raichiana, quem diria, um empresário da comunicação com o pezinho no mundo de auto conhecimento e aprimoramento pessoal?
Ainda aguenta mais um pouco, pelas pessoas, sempre elas. Mas não sabe dizer por quanto tempo. provavelmente menos do que o planejado longo prazo, mas invariavelmente mais do que a alergia ao mundinho corporativo indicava há pouco tempo atrás...