sábado, 29 de março de 2008

Homenagem aos 58 anos de Flora e Geraldo

Tive uma surpresa adorável no almoço de ontem. Uma senhora me confidenciou:
- Estou completando 58 anos de casa!
Como participo no Orkut da comuna "ironia sempre", brinquei:
- E eu, dois de separada.
Todos no restaurante comentavam que parecem namorados, andam de mãos dadas, se chamam carinhosamente, comentam efusivamente dos netos e bisnetos. Ela conta que foram à piscina no próprio prédio em que moram pela manhã, mas ele confessa:
- Sou feito de açúcar, não entro na água.
O bom humor continuou depois que o senhor derrubou o boné no chão:
- Perdi a cabeça!
Ou quando a mulher contou que sou jornalista:
- Fala bastante mal dos outros né?
Se tem algo que me emudece e faz praticar a contemplação, é ouvir a terceira idade. Eles vieram de Birigui e Itapira, mas se conheceram em Campinas, nos clubes que as famílias de antigamente freqüentavam. Ela foi professora e ele economista, administrador e contador. Gostam de ver peças, comer fora e têm quase 6 décadas de convívio. Ela confessa de gostar de conversar, ser tolerante e procurar entender é uma fórmula que contribui para o amor duradouro. A interlocutora aqui desconfia que os professores que lidam com aborrescentes e merecem ser canonizados estão preparados para qualquer casamento. Apesar dela contar que ele enfrente algumas doenças, Flora e Geraldo não demonstram qualquer amargura, ranço, vício ou mal humor, ainda que a idade evidentemente os limite. A falta de pressa deles me fez sentir no interior. Para que correr numa época da vida em que tudo é saudade? A aspirante a redatora do Sex and Th City brasileiro suspira em seu almoço no restaurante mais pop do Itaim, um pouco com saudade dos próprios avós: "não se fazem mais casais como antigamente". E dedica essa ode à eles, amor à moda antiga, que ele transcenda o tempo e ainda entregue muita identidade para os netos comprarem ingressos mais baratos para as noitadas cênicas nessa pauicéia desvairada, que ainda anima os dois...

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